Milho na cerveja?

Milho na cerveja?

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Milho. Foto: Michael JanekMilho. Foto: Michael Janek

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Quanto mais as cervejas especiais ganham notoriedade, mais aparecem pessoas ditas entendidas no assunto. O problema é que boa parte da informação difundida não é de todo verdadeira e começa aquela famosa guerra entre cerveja especial e cerveja de massa onde o principal argumento dos desinformados é: Minha cerveja é puro malte, sua cerveja é feita de milho.

É sabido que quase a totalidade das cervejas de massa utiliza milho ou arroz em sua composição, mas o que não se divulga é o porque disso e nem o fator histórico. O uso de cereais não maltados é comum por exemplo, em estilos como Witbier onde temos a adição de aveia e trigo não maltados como uma forma de ganhar corpo e turbidez. Já o milho e o arroz são usados com o propósito contrário, deixar a cerveja mais leve e cristalina.
Estilos como Pale Lager, Dark Lager, Cream Ale, as variedades do clássico estilo inglês Bitter e até a histórica cerveja Gose fazem uso de arroz ou milho para isso e todos podemos concordar que são estilos nobres e de alta qualidade, certo?

O marco histórico do uso de cereais não maltados acontece a partir de 1933 após a lei seca dos Estados Unidos ser revogada, onde o governo autoriza o consumo de bebidas alcoólicas porém com limitação de teor alcoólico, liberando cervejas e vinhos com até 3,2% ABV. As cervejarias que sobreviveram então à lei seca resolvem criar o que ficou conhecido como American Light Lager, um estilo de corpo leve, refrescante, bem carbonatada e de baixo teor alcoólico. O baixo valor do arroz e do milho tornaram possível, além dessas
características, retomarem o mercado vendendo cervejas com valores acessíveis e ainda assim mantendo um bom lucro.

A confusão começa quando o estilo American Light Lager se difunde no Brasil por conta das grandes marcas que passam a adotá-lo utilizando o nome de Pilsen e modificam suas receitas de forma a torná-las o mais baratas possíveis, elevando a quantidade de grãos não maltados ao extremo que a lei permite e diminuindo a quantidade de lúpulo, tornando a cerveja sonsa, quase sem sabor, mas em compensação, aumentando significativamente seu lucro com elas. Vale lembrar que a lenda da cerveja “estupidamente gelada” tem ligação direta com essas modificações causadas ao estilo, pois com temperaturas muito baixas, nossas papilas gustativas se contraem tornando difícil sentir qualquer sabor. A bagunça continua quando a polêmica da “cerveja de milho” surge e essas mesmas companhias apelam para produtos ditos puro malte. Porém nada mais fazem do que utilizar as mesmas receitas insípidas, completamente sem lúpulo, trocando apenas o milho por malte, simplesmente para atrair os desinformados.

Mas por favor, não sejamos carrascos, o intuito aqui é justamente acabar com a desinformação. Então não é porque alguma cervejaria artesanal foi comprada por um grande grupo que irão alterar as receitas de forma a baratear os custos assim. Sejamos complacentes e vamos lembrar que há outras formas de tornar uma cerveja mais lucrativa, como a produção em maior escala, por exemplo.

Então lembrem-se, puro malte não é necessariamente sinônimo de qualidade, cerveja com milho não é ruim. Vamos todos abrir nossas mentes e também uma garrafa de cerveja!

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