Criatividade e desperdício: 4 perguntas para Felipe Bronze

Criatividade e desperdício: 4 perguntas para Felipe Bronze

- em Entrevistas

Enquanto esperava para entrevistar o chef Felipe Bronze, uma multidão o aguardava para tirar fotos e acompanhar uma aula show que começaria em seguida. Celulares a postos e olhares curiosos sobre a bancada tentavam desvendar qual seria o menu a ser preparado pelo chef famoso.

Felipe é figura conhecida da televisão. É um dos chefs que mais fazem realities e programas gastronômicos e seu público vem daí. Ele tem um jeito único de falar e explicar sobre comida. Que Seja Doce, The Taste, Perto do Fogo, Jogada de Chef são alguns dos shows onde mostra seu talento. Além disso, tem duas estrelas Michelin no currículo pelo seu restaurante Pipo, em São Paulo, e já foi eleito um dos 100 melhores chefs do mundo.

Felipe nos recebeu durante a inauguração do Oba Horti-fruti em Ribeirão Preto e batemos um papo rápido sobre nossa relação com a comida.

Felipe Bronze em aula show no Oba Hortifrutti | Foto: Jeann FM

FM – Qual o papel do profissionais da gastronomia na conscientização sobre o desperdício de comida?

FB – Acho que cada um de nós tem essa responsabilidade, mas sempre com uma abordagem muito específica. Por exemplo, a Bela Gil tem um trabalho muito legal e fala de compostagem, como você aproveita o lixo orgânico.

Eu vejo que muita gente não tem informação sobre o uso dos alimentos em seus diferentes tempos de maturação. Por exemplo, uma banana mais madura você pode aproveitar pra fazer um doce, e assim por diante. Meu papel é justamente passar essa informação e gerar debate sobre isso. Cada um tem seu jeito, sua abordagem e isso é fundamental.

FM – A entrega criativa sempre foi algo muito presente no seu trabalho. Ela faz parte desse diálogo?

FB – O meu lance é com criatividade, sempre quero usar um ingrediente que não é habitual e apresentar uma possibilidade de uma outra maneira. Acho que cada um vai mostrando que cozinhar também é um exercício de responsabilidade, que dá pra usar o alimento dessa ou daquela forma.

FM – Sua exposição na mídia tem sido uma grande ferramenta pra isso, não é?

FB – Eu faço uns quinhentos programas de TV (risos). Todo ano, a gente tenta colocar provas de aproveitamento de alimentos. Foi uma ideia coletiva, é importante pra burro. A gente tem que fomentar isso, mas acho que tem uma coisa. Se a gente fala apenas em aproveitamento, essa mensagem não chega pra todo mundo. Tem gente que tá em casa e não se interessa por questões de desperdício, diz ‘ah isso pra mim não faz sentido’. Tem públicos que precisam de uma abordagem diferente, pela criatividade, pelo poder de criação de algo novo, de entender que aquilo é melhor. Se você caminha por linguagens diferentes, você pega todo mundo.

FM – Seu trabalho no Pipo tem valorizado muito a criatividade. Como é a relação da estética com a comida?

FB – Isso é intrínseco ao meu método de trabalho desde que eu me entendo por gente, então é algo muito natural. A gente não fica pensando em ser criativo, a gente simplesmente trabalha assim. A apresentação do prato é parte do prato, não separo as coisas. Pra mim, a disposição, proporção, geometria, cores não são só estética. Por exemplo, no Pipo, temos um prato que tem atum com melancia. É uma brincadeira com os sentidos, se você colocar um ao lado do outro não se sabe qual é qual. A estética faz parte do gosto, ajuda a surpreender o paladar e isso é indiscutível.

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