Entrevistamos Henrique Oliveira, o escavador de histórias cervejeiras em Minas Gerais

Entrevistamos Henrique Oliveira, o escavador de histórias cervejeiras em Minas Gerais

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Imagem: Arquivo Pessoal

Pesquisador percorreu Minas Gerais em busca da história da bebida e de seus fabricantes no estado

De seus perfis nas redes sociais, duas coisas fluem constantemente: vídeos entusiasmados de degustações de cervejas de diversas origens, e documentos preciosos contando a trajetória da bebida e seus fabricantes no país (e, mais especificamente, no Estado de Minas Gerais). Apreciadores de cerveja têm muito a agradecer ao pesquisador Henrique Oliveira. Há 10 anos, ele vem se dedicando a revirar arquivos públicos e acervos particulares, entrevistar pessoas e visitar os desconhecidos marcos históricos da cerveja no Brasil. A naturalidade com que declina nomes de fábricas centenárias e de seus proprietários, datas de fundação e até endereços passou a ser assombrosa. O que não mudou foi o seu objetivo: despertar cada vez mais o interesse das pessoas pela riqueza cultural, econômica, gastronômica e social da cerveja.

Marcio Beck: Quando e por que você começou a pesquisar sobre cerveja? 

Henrique Oliveira: A partir de 1999, quando havia concluído o curso sobre cachaças de qualidade pela AMPAQ de Minas Gerais. Percebi que o universo de cachaças no Brasil era extenso, enquanto o número de cervejarias existentes até aquele momento era limitado e plausível de ser pesquisado. Não havia mais do que 100 fábricas.

MB: O que você fazia na época, e como esse interesse influenciou sua vida?

H.O : Trabalhava como auditor e consultor em uma “Big 4” do mercado, e esta função ajudou muito no processo de pesquisas e formalização dos trabalhos. Em 2007, um primo meu, Daniel Teixeira Chaves, fazia cervejas caseiras, e me apresentou a um grupo de amigos que também produzia. Daquele grupo de dez amigos, construímos a ACervA Mineira – Associação dos Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais, na casa de meu pai. Em 2013, após cinco anos de pesquisas intensas, lancei com o meu sogro o primeiro compêndio de cervejas artesanais do Brasil – o livro “Brasil Beer: O Guia de Cervejas Brasileiras”, com serviços de táxi, hotéis, microcervejarias, cervejarias, bares e restaurantes. Foi um marco para o setor literário, que era carente de informação, que se encontrava fragmentada e desconexa. O livro foi um verdadeiro sucesso, que se consagrou no mercado. Ao ponto de, em menos de um ano, ter sua segunda edição impressa. Uma terceira edição está prevista ainda para 2019-2020.

MB: Em que momento passou a se concentrar na história das cervejarias mineiras?

H.O :Após o término da segunda edição do livro Brasil Beer, busquei para mim a responsabilidade de escrever um livro dedicado a história da cultura cervejeira no estado de Minas Gerais. Sou mineiro, e cabe a um membro da terrinha a obrigação de encontrar dados. Em 2013, passei a pesquisar sobre os cervejeiros que habitam o estado, e dessa forma, parti em busca de informação.

MB: Sua pesquisa é de uma riqueza documental belíssima. Como foi a busca pelas fontes? 

H.O : Os resultados alcançados em 6 anos de pesquisas foram os seguintes:

  • Mais de 100 livros e bibliografias pesquisadas;
  • Mais de 200 profissionais e pessoas entrevistadas, entre elas agentes de cultura, memorialistas, historiadores, empresários, empreendedores e descendentes de imigrantes;
  • Mais de 90 municípios analisados/visitados em todas as Mesorregiões de Minas;
  • Mais de 6.000 quilômetros rodados no estado de Minas Gerais;
  • Mais de 100 microcervejarias e cervejarias catalogadas;
  • Mais de 50 museus, bibliotecas, arquivos públicos, secretarias de cultura, associações comerciais, sindicatos, igrejas e prefeituras consultadas;
Henrique em um campo de lúpulos. Imagem: Arquivo Pessoal

 

MB:Quais foram as descobertas mais interessantes que você fez sobre a história da cerveja? 

H.O :Descobrimento da cervejaria mais antiga de Minas Gerais (1841);

  • Descobrimento do plantio de lúpulo no Sul do estado no Século XIX;
  • Apresentação da descoberta da levedura autenticamente mineira;
  • Descoberta de polos cervejeiros anteriormente não registrados ou detectados;
  • Descoberta de rótulos, fotos, equipamentos, garrafas e outros objetos utilizados na fabricação da cerveja autenticamente mineira.

Apresentação de grandes brasileiros e imigrantes que transformaram Minas Gerais, por meio da fabricação de cervejas e outras bebidas espirituosas e refrescantes.

MB: Qual foi a descoberta mais importante?

H.O :Sem sobra de dúvidas, encontrar a cervejaria mais antiga de Minas foi um orgulho a parte.

MB: O segundo livro está vindo. Tem mais “fermentando”?

H.O :O que está fermentando é o “Cervejarias Mineiras: da Imigração ao Copo”. Aguardem, pois ele está muito bonito e bem redigido. A Diretoria da Academia Mineira de Letras de Minas Gerais teceu excelentes comentários sobre a obra, que será referência para o segmento e para o estado.

MB: Qual o mito histórico cervejeiro que te mais te incomoda?

H.O :Mitos são legais, eles trazem algo apetitoso para esse estudo da cerveja, fazem parte desse processo de se interessar pela cerveja, de querer aprender mais… Daqui a pouco, vamos estar falando da Catharina Sour, vai virar um mito também.

Sempre com brinde e foto para compartilhar. Imagem: Arquivo Pessoal

 

MB: Alguma sugestão para quem quer se aprofundar na pesquisa histórica sobre cerveja?

H.O :Quem deseja aprofundar em qualquer tema, incluindo o setor cervejeiro, tem que ter visão de futuro. O que deseja montar e apresentar. Pode ser um livro, uma palestra, um vídeo, ou um documentário. É importante ter um roteiro, montar um cronograma e buscar ajuda, citando as suas intenções. As pessoas, quando entendem sobre as necessidades daqueles que esta pesquisando, fazem questão de ajudar. Seja por meio de um depoimento, seja por meio de um artigo, uma dica. Tudo é valido, desde que seja de boa fé, para se atingir um sonho, um objetivo. Planejar é importante, colocar no papel também, mas praticar e buscar resultados é o que importa.

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