Brasilidade é um universo

Brasilidade é um universo

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Mostra Brasilidade Pós-Modernismo Foto: Gilberto Evangelista

O Brasil não se resume em um sabor, um aroma. É país continental, multicultural, vários países em um só. Por conta disso a expressão “Brazilian Alguma Coisa” será sempre insuficiente e errada representar o sabor tupiniquim. E calma, isso não é uma crítica a tal “BraZilian Pale Ale”… Tá bom, só um pouquinho (riso cínico do autor).

Julho deste ano da graça (ou com pouca graça) de 2022 foi marcado por alguns encontros cervejeiros para se pensar o que é (ou será) a cerveja brasileira. E para chegar nisso, é importante entender a brasilidade. E entendendo a ponta deste iceberg, é possível afirmar a impossibilidade de definir em apenas uma coisa.

A brasilidade é um universo, não algo. Impossível conter a definição em poucos determinantes, e mesmo algo dentro deste universo, tem inúmeras variações. Isso tudo pelo fato da continentalidade de nossas dimensões, dos diferentes climas, microclimas, biomas, e claro, das inúmeras culturas.

Confuso? Calma, ainda tem a temporalidade. Nada é definitivo para todo o sempre. Para entender, razoavelmente bem, temos de estar cientes do senso de constante mudança, e o que é hoje, não é amanhã. Ancorar qualquer definição singular como representativa de um todo como definitiva é apenas um reflexo conservador egoísta de nossa parte. Mesmo que isso seja aceito por um coletivo ou regionalidade, não representa o todo, e nem mesmo pode ser uma constante temporal.

– Alô Diego! Terra chamando!

– Tá! Tá! Tô voltando!

Resumindo em miúdos, incorreto levar “braZilian” como adjetivo para um tipo específico de cerveja, de lúpulo, de malte, de qualquer coisa. Antes de tentar declamar pra gringalhada o que é brasilidade, temos de ter ciência do peso e dimensão dessa definição. “BraZilian” ou “Brasilidade” é um coletivo, um universo, e, pelo menos para mim, correto seria usar apenas para definir coletivo de coisas produzidas dentro dos limites geográficos desse nosso país.

Não considero ruim, apesar dessa minha crítica, o desejo de “braZileirar” algo. Oras, isso mostra algum tipo sentimento de pertencimento e orgulho. A questão é não reduzir essa imensidão onde vivemos, apequenar algo tão grandioso em apenas “um algo”.

Existe uma pressa em nomear, de existir, a “cerveja brasileira”, a “Escola Brasileira”. Temos de ser pacientes, e talvez tenhamos de nos entregar a frustação de que não será durante nossas vidas que veremos isso se concretizar. 

O que podemos é estabelecer as fundações para isso. Ajudar a criar o ambiente, explicitar alguns parâmetros, abrir o caminho. Jogar luz sobre alguns entendimentos, que apesar de desagradáveis, são importantes no longo prazo. 

E vejam, talvez nunca estivemos tão perto de estar realmente no caminho de criar a nossa Escola Cervejeira. Estamos criando lúpulo nacionalmente, uso de madeira brasileira é uma realidade, estamos buscando conhecer nossos microrganismos, estamos buscando e testando diferentes adjuntos nativos como frutas, sementes, folhas… E quem sabe, vamos começar a olhar para o milho como o malte originários das cervejas sul-americanas.

Os caminhos e as tarefas são muitas para se estabelecer que existe uma escolha cervejeira com toda ginga e malemolência que a brasilidade merece. Uma delas, por exemplo, é deixar de usar o maldito Z e nomear tudo em inglês. A brasilidade tem de ser, antes de tudo, para nós, antes de ser para os outros.

Os longos caminhos para trilhar estão se apresentando. Estes encontros de julho, o 1º Encontro do Mundo das Cervejas Selvagens Brasileira e o 1º Congresso Cerveja é Gastronomia, ambos apoiados pela Abracerva, foram extremamente positivos e apontaram a bússola para destinos aos quais navegar. Precisamos alongar essas conversas, para entender os caminhos e os destinos os quais queremos chegar.

 

Mais textos do autor:

A Escola Brasileira pode surgir através das cervejas com terroir?… – Veja mais em: https://www.farofamagazine.com.br/artigos-da-farofa-magazine/escola-brasileira-cerveja-terroir/

Cervejas com terroir… – Veja mais em: https://www.farofamagazine.com.br/artigos-da-farofa-magazine/cervejas-com-terroir/

 

Foto de abertura Gilberto Evangelista

Retirada do link Mostra Brasilidade Pós-Modernismo: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/marcelo-chaves/mostra-brasilidade-pos-modernismo-e-aberta-com-evento-no-ccbb-brasilia/

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