Cerveja ruim

Cerveja ruim

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Bottles. Foto: Bhavyesh Acharya

Nunca falo sobre cervejas ruins. Quase nunca. Não gosto de escrever críticas abertas, com foto e nome da cervejaria e publicar por aí. Mas muitas vezes acontece de tomar uma cerveja desagradável. A cerveja ruim nos une, ninguém gosta.

 

Tá com defeito?

Os defeitos das cervejas podem ser vários e a gente geralmente encontra por causa de pistas, aromas e sabores que se chamam off-flavours e taints e são um alerta que nos contam uma história, triste. Tem treino para encontrar cerveja ruim! Spoiler, o treino não é gostoso de fazer, pois consiste em provar cada um desses defeitos, que são produzidos com nanotecnologia e encapsulados. Assim você aprende a reconhecer cada um desses atributos bem desagradáveis na cerveja, testando com uma graduação bem grande em cada elemento. Eca.

A cerveja ruim pode ser uma cerveja que foi mal feita, com ingredientes de baixa qualidade, sem técnica ou por causa de algum infortúnio na fermentação ou procedimento errado.

 

Tava perfeita até que…

Masssss, e isso é importante ser dito, também podem ser várias outras coisas. Imagina que a cerveja saiu perfeita da fábrica, mas tendo feito uma péssima viagem na logística de um local para outro, trouxe consequências sensoriais ruins.

As vezes acontece de a cerveja chegar incrível ao ponto de venda (bar, restaurante, empório, padaria, boteco, etc) mas não ser bem recebida, o estoque é horrível e vai ficar um tempo longooooo de espera até ser refrigerada e vendida. Se for chope, ainda tem a questão da higienização da linha da chopeira, da qualidade do gás e toda essa tubulação de coisas.

Ainda existe a chance de ser o copo, mal lavado, encardido e engordurado ou “tão limpo” que tem resto de detergente ou secante. Não sendo isso, o atendimento é que derrapou? O serviço falhou e foi tão mal educado que estragou o dia ou a noite de quem só queria uma gelada. Ou o local que estava quente, com muito ruído, música alta, abafado, ambiente todo torto, tinha gente importunando, a companhia era chata, a vibe da galera era ruim.

 

Mas e se não foi nada disso?

Ruim podia ser minha língua. É sério, muitas vezes a gente não tá bem, nada fica bom. Azeda tô eu, de mal com a vida, chateada ou triste. É isso, a cerveja podia estar perfeita, mas não deu match com o humor. Ou então é o estômago ruim, uma febre começando, um nariz escorrendo, uma garganta aranhando.

E se a cerveja tiver uma sugestão de acidez mais intensa e eu não estiver preparada? Se for um estilo com alto amargor e eu não ser tão fã assim de uma boca amarrada? Caso seja envelhecida e eu não aprecio sabores amadeirados? Ou for leve demais e eu gostar de algo mais pesado? Uma fruta diferente, uma proposta muito ousada? Se for pouco carbonatada ou até não estar tão gelada? Uma cerveja é terrível, só por não ser do meu gosto?

Pensando aqui, muita coisa pode fazer uma cerveja ficar ruim, sem ser ela de má qualidade. Então, alguns rótulos precisam ser tomados mais de uma vez, em diferentes momentos, lugares e companhias. Outros lotes, outras chances.

O que não dá é cerveja ruim. Mas veja, pode não ser a cerveja.

Eu costumo escrever um e-mail para a fábrica, comentar qual foi o lote, o que aconteceu, o que eu senti ali. Não superrr detalhado pois não é um julgamento e nem uma consultoria, mas um feedback que acredito, ajuda muito no controle de qualidade das fábricas. Quando é de uma cervejaria, artesanal, que eu tenho um apreço maior pela marca, acho que é ainda mais importante levar essa informação para a empresa, pois muitas destas cervejarias ainda estão aprendendo e melhorando seus processos, investindo em protocolos e maquinários melhores.

 

  • Estava lendo o artigo: “Can A Beer Can’s Size Impact Its Flavor?” E tem outras variáveis nesse texto, que poderia ter trazido para esse papo. (aqui)

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