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PJCP, o pudim profissional

Foram 13.100.000 resultados que o Google deu ao digitar a palavra PUDIM em seu buscador. Páginas e páginas de um mar de dicas, receitas, tipos, histórias e jeitos diferente de comer essa iguaria.

Desde o século XVI quando foi criada dentro de um convento português, a sobremesa ganhou adeptos e seguidores e confeiteiros. A receita era somente com leite, pois o adocicado e famigerado leite condensado só iria surgir no século XIX.

De cor marfim, a tradicional versão servida nos dias de hoje é feita em forma com um furo no meio e uma calda. Mais simples impossível. O que muda muito são as versões, com ingredientes ou técnicas muito diferentes. Mas a base é açúcar, leite e ovo.

Em 1977 um escritor famoso chamado Michael Jackson (!) lança o livro “The World Guide To Beer”, transformando o mundo cervejeiro. Ele ajudou as pessoas do mundo globalizado a olhar as cervejas de maneira organizada e com suas idiossincrasias. Apesar de poucos ingredientes, haviam muitas técnicas e singularidades de acordo com o país onde a bebida era feita.

Em 1985, nasce nos Estados Unidos uma organização sem fins lucrativos, chamada BJCP (estamos chegando lá!). Beer Judge Certification Program é o nome dado “para promover alfabetização cervejeira e apreciação da verdadeira cerveja, e para reconhecer habilidades na degustação e avaliação de cervejas”. Este guia de estilos é como uma bíblia para quem faz cerveja em casa e quer fazer uma avaliação mais criteriosa do produto final. Muitos concursos cervejeiros no mundo todo usam essa metodologia para fazer avaliações profissionais das cervejas. Os elementos que são observados durante o processo são aparência, aroma, sabora, textura, equlíbrio entre outros. Cada etapa tem um valor diferente de ponto e ao final a cerveja pode ganhar uma medalha ou um feedback do que melhorar.

E é aqui, enfim, que juntamos o BJCP e o PJCP, já sacou? Em 2017 essas duas siglas começaram a se misturar e virou um tipo de meme/sátira de julgamentos pudinzeiros e tem conseguido unir pessoas do mercado cervejeiro em prol de diversão e os melhores pudins do Brasil. PUDIM JUDGE CERTIFICATION PROGRAM, uma forma de julgar pudim, seria um trabalho doce e talvez enjoativo, mas fazer o que né 😉

Essa semana eu estava acompanhando algumas postagens no Stories e depois de muitas cervejas e pudins resolvi contar essa história melhor e para deixar registrado. Chamei a Daiane Colla e a Fernanda Meybom, sommelières de Florianópolis, que são as difusoras da sigla e vão explicar como que é isso.

Na esquerda a Fe Meybom e na direita a Daine Colla, no meio o pudim nota 1.000. A cerveja é a Smoked Porter, colaborativa da Dádiva com a Maniba, Vai calda de pudim na receita, pelo que eu li.

Me conta como surgiu essa história do PJCP?

Dai: Eu não sei exatamente quem teve a ideia de usar a denominação PJCP (provavelmente a Fer e toda sua criatividade para nomear coisas hehe) mas a brincadeira com o pudim e com o #clubedopudim surgiu durante a Copa da Cerveja POA de 2017. Eu, Fe Meybom, Fer Lazzari e Jeh Lopes estávamos participando da competição que aconteceu no Novotel do Aeroporto, em Porto Alegre. Nosso almoço acontecia no próprio hotel e de sobremesa havia sempre um pudim gigante e delicioso. Fizemos tanta propaganda do pudim que no segundo dia todo mundo estava falando dele. Daí começamos com a hashtag #clubedopudim. Daí não parou mais.

Fer: Também não sei, mas acredito que tenha surgido da mesma forma que o Caipirinha Judge Certification Program – CJCP.

Dai: As pessoas marcam a gente em publicações e pedem nossa avaliação do pudim. Nos divertimos muito. Inclusive temos um grupo de amigos cervejeiros no whatsapp que posta mais foto de comida do que de cerveja, que é denominado Luci´s Pudim, já que todos são pudinzeros assumidos.

Vocês são confeiteiras de mão cheia?

Dai: Pudim é a única sobremesa que eu sei fazer 🙂 aprendi há alguns anos por ser a única que meu marido gosta.

Fer: na realidade não faço pudim, mas tem um restaurante que almoço quase todo dia e nas terças-feiras a sobremesa é grátis. O pudim é excelente e sempre escolho pudim. Sim, eu como pudim quase toda semana! Hahaha. E é umas das minhas sobremesas favoritas!

*Lembrando que a Fer é nossa especialista em bolinhos com cerveja e caldas que misturam as notas de chocolate, torrado, cerveja e afins. Segue o @comerbeberharmonizar para babar junto comigo.

Quais são as principais características e benefícios de usar o método para avaliação de julgamento de um verdadeiro produto da culinária de doçaria tracional mas sempre contemporânea brasileira.

Dai: Hahahahah. Ainda precisamos escrever as diretrizes, então acredito que cada uma segue a sua. Eu avalio cor, textura, se está liso ou com furinhos e se cozinhou demais. Pudim pra mim ter que se lisinho, com a calda não muito escura e abundante e que não se mistura facilmente ao pudim. Precisa ser firme, mas não duro e a parte de cima, da calda, não pode ser muito espessa. Se for, normalmente o pudim cozinhou demais.

Fer: confesso que minha avaliação não é tão criteriosa quanto a da Dai hahahaha. Eu como pudins feios, ou com furos… Mas não gosto de calda muito doce, espessas ou escuras.

Treta tradição: com furinhos ou sem furinhos?

Dai: Tu é bem tretiane né dona Bia? Hahaha. Eu sou do team sem furinhos, gosto deles bem lisos, com uma textura macia e aveludada. Não gosto da sensação aerada dos furinhos.

Fer: Eu sou bem democrática, com e sem furo, o importante é ser gostoso!

Matéria investigativa, encontramos uma foto com um pudim com possíveis furinhos no Instagram da Daiane. Harmonização incrível com uma Imperial Schwarzbier da Hausen.

Onde podemos encontrar os melhores pudins que vocês conhecem?

Dai: Um dos melhores pudins que já comi é da Thalita Barros, da Conceição Discos, de São Paulo. Super indicação da Fer Lazzari.

Ainda não provei e passo vontade todo dia: do Marcelo Dantas, de Campo Grande. O pudim que é receita dele também é vendido na Levain, em Porto Alegre.

Fer: concordo com a Dai e incluiria nesta lista o pudim que ela faz, que é maravilhoso e eu AMO!

Parece que harmoniza divinamente com um cafézinho a tarde também. Esse é o elogiado pudim da Conceição Discos, em São Paulo.

E para acompanhar o pudim, tem alguma sugestão de cerveja?

Dai: Para o tradicional pudim de leite condensado gosto de utilizar cervejas bem maltadas mais escuras como dunkel, bock e doppelbock. Imperial stout, imperial porters, american stout, barley wines, belgian dark strong ales e fruit lambics também ficam interessantes. A Andrea Luz sugeriu uma harmonização com IPA e estou tentada a testar. Agora vamos testar uma Smoked Porter, colab. da Dádiva com a Maniba, que leva calda de pudim na receita. Estamos muito curiosas 🙂

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Um doce tão transformado em brasileiro, tão histórico com a ascensão do açúcar. Essa mistura mexe com nosso corpo e nossa alma. A ideia não é gourmetizar o doce não! Mas a brincadeira de buscar evoluir nossa avaliação é também buscar melhorar ainda mais algo que vem sendo modificado a tanto tempo e conta nossa história. Já provou pudim e cerveja junto? Que tal provar e vir contar qual a nota você dá no PJCP? Com furinho ou sem furinho? Com pão amanhecido, o clássico e econômico? Calda escura ou clarinha?

Que nossas tias, avós e familiares de descendência portuguesa (principalmente) que deixaram viva a tradição fiquem orgulhosos de nós aqui, nos empanturrando de alegria a cada colherada.

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