Ícone do site Farofa Magazine

Embalagem de salgadinho que é obra de arte? Conheça a história do design da Piraquê

Arte original do Queijinho, por Lygia Pape | Foto: reprodução

Por décadas, o design premiado da artista Lygia Pape estampa os mais nostálgicos salgadinhos da empresa prestes a completar 70 anos. Conheça a história dessa designer e porque as embalagens da Piraquê merecem a sua consideração.

Em termos de mercado, são poucos os itens que escapam à extinção frente aos novos produtos e mais restrito ainda são os produtos que conquistam a memória afetiva do público. Esse é justamente o caso dos biscoitos Piraquê, marca recentemente vendida ao grupo cearense M. Dias Branco e que passou por um profundo reposicionamento.

E quem é que nunca comeu ou resgata lembranças da infância ao lembrar da famosa marca de salgadinhos? O que você talvez não saiba é que as icônicas e psicodélicas embalagens são obra de uma das artistas plásticas mais bem sucedidas do Brasil, a Lygia Pape.

Origem da Piraquê

A marca nasceu no ano de 1950 no Rio de Janeiro – onde a Piraquê é mais conhecida – bairro da Madureira, graças a Celso Colombo, então engenheiro agrônomo que tinha decidido ingressar no ramo de biscoitos, área na qual seu pai já tinha dado alguns passos anos antes.

A inauguração da fábrica da Piraquê, no entanto, aconteceu algum tempo depois, em 1953. Inicialmente, 200 empregados deram início à produção de biscoitos salgados. A fábrica possuía os mais modernos equipamentos da época como a máquina Vicars, de forno contínuo, que dispensava o velho uso de bandejas que eram levadas ao forno uma a uma.

Já em 1957 a empresa diversificou sua linha de produtos com o lançamento das massas nos formatos espaguete e talharim. E desde então não parou mais de inovar, tanto em seus produtos quanto na forma de entregá-los ao consumidor.

Lata Piraquê. Imagem: Divulgação

Em 1966 a Piraquê criou um dos seus maiores sucessos, o enroladinho de goiabada, que se tornou presente na vida das crianças em seus lanches escolares. Nos anos seguintes, a empresa também inovou quando foi a primeira indústria brasileira a adotar o pacote como embalagem – em um tempo em que os biscoitos eram vendidos em latas. E isso foi graças à artista Lygia Pape.

Design de Lygia Pape

Dentre os maiores ícones da história da Piraquê está o design. As embalagens de biscoitos cream cracker, maisena e os famosos Queijinho e Presuntinho, assim como as massas, as pinturas de caminhões e até mesmo o logotipo foram as que mais se destacaram ao longo dos anos pela originalidados. Todas as embalagens foram desenvolvidas pela escultora, pintora, cineasta, professora e artista multimídia brasileira, Lygia Pape (1929-2004).

A artista Lygia Pape em seu ateliê. Reconhecimento por unir arte e publicidade | Foto: Wikiart

As obras criadas pela artista nos anos 1950 com design em tela tornaram seu nome cada vez mais conhecido e, com sua ida para a Piraquê, ficou responsável por toda a criação da identidade visual da marca nos anos 1960. Seu trabalho então, se tornou um marco para o mercado pela valorização da relação da arte com o design e vice-versa.

O cenário artístico nacional da época foi renovado por Lygia, que fez referências às Xilogravuras – técnica de impressão muito antiga que consiste em uma gravura, na qual se utiliza uma madeira como matriz, possibilitando a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte. Esse método esteve presente em diversas embalagens dos produtos da Piraquê até o ano de 2009, já que posteriormente, a identidade visual dos produtos passou por um processo de renovação.

Após renovação das embalagens, a obra de Lygia continua norteando o design dos produtos.

Muitos consumidores dos produtos da Piraquê, assim como artistas e especialistas em Design criticaram a mudança no visual da marca por considerarem o trabalho feito por Lygia Pape simplesmente impecável e imutável, tanto pela capacidade de chamar a atenção quanto pela sua relação íntima com a arte. Mas fato é que nada vai alterar a história de Lygia e sua contribuição com a marca, a indústria e a arte. (veja AQUI, AQUI)

A Piraquê hoje

Embalagens antes (acima) e depois (abaixo) da reformulação da marca, em 2009. Críticos falam em “crime” contra a obra de Lygia Pape | Imagens: reprodução 

Atualmente, a Piraquê emprega mais de 3.500 funcionários e acumula 5 prêmios de Qualidade e Excelência Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A empresa começou como fábrica de biscoitos e hoje tem diversas linhas de massas, biscoitos doces, chocolates, torradas e até mesmo refrescos em pó. É presente em cerca de 60 mil pontos de venda espalhados por todo o Brasil, sendo que 70% de todo o faturamento está concentrado no estado do Rio de Janeiro. No entanto, amantes em outros estados não faltam.

Ana Carolina Quintero, 37, vendedora, e Vitória Conrado, 19, estudante – mãe e filha respectivamente – compram os produtos da Piraquê há 10 anos, quando moravam em Florianópolis (SC), e agora, que moram em Ribeirão Preto (SP). Não negam que os salgadinhos de presunto são os seus favoritos e Ana conta que “o que mais chamou a atenção na marca foi a embalagem, toda ‘organizadinha’ e, na época, foi por causa dela que decidi experimentar. Desde então continuo comprando”.

Elas e milhares de pessoas ao longo dos quase 70 anos de história da Piraquê foram fisgadas, tanto pelos olhos quanto pelo sabor dos produtos. História que tende a se estender por mais tempo, interligando-se entre gerações e fazendo parte da vida de cada vez mais pessoas.

Sair da versão mobile