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6 perguntas sobre azeites, falsificação e produção nacional

Sandro Marques é pesquisador, professor e autor do Guia de Azeites do Brasil | Foto: divulgação

O azeite é o segundo produto mais falsificado do mundo, só ficando atrás do pescado, de acordo com informações do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). E isso se torna ainda mais preocupante quando olhamos para o nível de consumo no Brasil: aumentamos em 45% em consumo apenas entre janeiro e julho de 2017 e 2018, representando mais de 30 toneladas do produto nas mesas brasileiras.

E diante de um mercado tão aquecido, a preocupação sobre a qualidade é inevitável. Em julho deste ano, o MAPA proibiu a venda de seis marcas de azeite de oliva depois que a fiscalização do encontrou produtos fraudados e impróprios para o consumo humano. Foram recolhidos todos os azeites das marcas Oliveiras do Conde, Quinta Lusitana, Quinta D’Oro, Évora, Costanera e Olivais do Porto. Os responsáveis pelas marcas são Rhaiza do Brasil Ltda, Mundial Distribuidora e Comercial Quinta da Serra Ltda.

E para esclarecer alguns pontos ainda obscuros sobre o azeite de oliva de boa qualidade, entrevistamos um dos maiores especialistas do Brasil no assunto, Sandro Marques. Sandro é professor, pesquisador, pós graduado em gastronomia, jurado de prêmios gastronômicos e editor do blog Um Litro de Azeite. Ele também é autor do Guia de Azeites do Brasil e acabou de lançar o livro infantil  O que Comem os Astronautas?

Brasil consome atualmente mais de 30 toneladas de azeite por semestre | Foto: pexels

FM – Você acredita que no Brasil ainda falta educação para o consumo do azeite de oliva?

SM – Falta educação para o consumo, embora este não seja um problema exclusivamente brasileiro. Algumas fraudes são mesmo difíceis de serem detectadas e outros países que são grandes importadores de azeite, como os EUA, também estão sujeitos a comprarem azeites falsificados. O melhor detector de fraudes, para o consumidor final, ainda é o nariz. É preciso educar-se para reconhecer os aromas que são indicadores de qualidade e os aromas que são provenientes de defeitos. E não há milagre com relação a preço: azeite muito barato é de qualidade ruim, já está envelhecido ou é fraudado mesmo.

FM – Na sua opinião, os pontos de venda, supermercados e redes têm responsabilidade nestes crimes por não questionarem sobre procedência?

SM – Os azeites proibidos, até onde pude ver, eram vendidos em redes ou supermercados menores, com baixa capacidade para avaliar a qualidade do produto. Acredito que é papel do MAPA intensificar este tipo de análise.

FM – O que caracteriza um azeite fraudado?

SM – Normalmente é um óleo refinado ao qual se acrescenta um pequeno percentual de azeite ou aromatizante. O caso mais grave é quando, como nesses últimos azeites proibidos pelo MAPA, está se usando azeite lampante, que é impróprio para consumo, por ter um nível de acidez livre acima de 2%, o que é indicador de degradação do azeite. Em todos os casos, trata-se de um crime contra a saúde do consumidor, porque essas misturas não têm as mesmas qualidades para a saúde que um azeite de oliva verdadeiro tem.

FM – Quais suas dicas para o consumidor não ser enganado na hora de comprar um azeite?

SM – Começar a se educar. Comprar um azeite comum e investir num azeite de qualidade – um bom azeite brasileiro. Experimentar os dois azeites lado a lado para aprender a reconhecer o aroma de um azeite de qualidade. A partir disso, evitar preços muito baixos e azeites produzidos fora do Brasil mas envasados no Brasil. Neste último caso, não só o azeite pode ter desenvolvido defeitos durante o transporte, como o fato de ser envasado aqui pode ser também uma porta aberta para a fraude. Tomar cuidado com ofertas. Os melhores azeites são azeites jovens – muitas vezes as ofertas são de azeites extraídos ou envasados há mais de dois anos.

FM – Para este ano, está prevista a maior produção de azeite do Brasil, devendo atingir 160 mil litros. Além do Rio Grande do Sul, outros estados também estão se destacando na produção. A que você deve este crescimento?

Minas Gerais produz excelentes azeites e São Paulo também. Já há produção em Santa Catarina, Paraná e na região de serras do Espírito Santo. Este crescimento é sobretudo fruto da persistência e empreendedorismo dos produtores, aliado a um movimento de valorização de produtos alimentícios artesanais brasileiros que ganhou força na última década.

FM – O que você acha que falta para haver uma valorização do azeite nacional, assim como há, tradicionalmente, do azeite importado?

Parte da resposta é bem simples: o brasileiro precisa saber que existe azeite produzido no Brasil e que ele tem excelente qualidade – aliás, ganhamos vários prêmios internacionais nos últimos anos, ficando ao lado de países tradicionais como Portugal em Itália. Fora isso, a partir do momento em que uma pessoa prova um azeite super fresco, recém produzido, ela imediatamente sente a diferença em relação a um azeite importado de baixa qualidade.

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