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Barista de mim, 9 itens essenciais para fazer café para si

Fotos por Bia Amorim para Farofa Magazine

Foi um dia desses que percebi que estava mesmo fissurada em fazer cafés cada dia melhores, diferentes, matematicamente distintos, sensorialmente incríveis e únicos. Quando percebi havia me matriculado em um curso de barista. Foi no meio de um semestre agitado de trabalhos, quase não consegui acompanhar a turma, mas seguia estudando sobre a moagem, sobre os diferentes tipos de extração e detalhes nunca antes imaginado, neste universo chamado café.

Artigo eu já tinha escrito, os sabores do café e principalmente seus aromas me encantam a tempos. Mas o “to brew” foi a pouco que despenquei nesta bolha. Este ano quando vi estava em um curso de torra dentro do sindicato, com o Ensei Neto falando sobre caramelos. Pega o grão verde, prova, entende de toda a ciência que está por trás de uma simples xícara do pretinho básico de todo dia, de todo mundo no mundo. Aprende que precisar desenhar uma curva sensorial e ligar os motores para esquentar o tambor. Minutos depois a mágica está lá. Um fruto colorido vira uma bebida milenar.

Quando a química fez sentido, apreciei ainda mais o esforço que fazemos para que possamos fazer cada dia cafés melhores e mais saborosos e que nos façam bem nessa vida corrida que precisa de cafeína e prazer no viver. Entre uma descoberta e outra, ferramentas mais tradicionais ou técnicas surgiram para que os cafés das minhas manhãs fossem realmente tão bons quanto de uma das cafeterias e torrefações que surgem nas capitais e cidades mais descoladas do país. É a terceira onda, dizem.

Organizei na minha cozinha as “tralhas” todas e vou compartilhar o que venho fazendo para ser diariamente, barista de mim mesma.

  1. Chaleiras

A do coração e do começo. Essa vermelhinha é “velha de guerra”. Poderia dizer que foi da minha avó e que ela fazia ótimos cafés, mas a verdade é que comprei faz alguns poucos anos e logo no primeiro dia de uso deixei ela secar no fogo, enquanto estava ocupada pensando na morte da bizerra, minha mãe diria.

Chaleira toda chaleirinha ela. Essa é bem baristinha mesmo! Não vai ao fogo, por isso continuo usando a vermevéia mesmo. Ela tem esse bico fino, que ajuda muito na hora de “manobrar” a água, em um processo importante de coar o café. Tem muito segredo essa etapa e os baristas profissionais tem receitas próprias e todas cheias de ciência e técnica. Esses modelos não costumam ser muito baratos, mas fazem uma diferença importante para quem busca ter um processo mais mensurável. Essa comprei no Grassy Café.

Chaleira toda modernosa e elétrica. Fui fazer uma palestra esses dias e acabei optado por comprar essa chaleira elétrica. Muitos lugares não têm fogão ou infraestrutura para esquentar água e como ia fazer café para bastante gente, bem esquema vovó mesmo, com bolo servido e café passado na mesa. Gostei bastante do resultado e tem dias que uso em casa também, pois esquenta a água muito rápido.

  1. Moedores

Na mão. Haja força e paciência, mas os ensinamentos são muitos e a praticidade para carregar é válida. Se você chegou ao nível de moer os cafés quando viaja, no hotel 😉 então este moedor é muito útil. Coloca na mala no lugar de algum sapato que você nem ia usar mesmo. É bastante preciso na regulagem. Este é da Hario.

O de pulsar. Depois de cansar de moer grãos, acabei optando pela praticidade e preço do moedor de pulsar, com uma lâmina simples. Parece um liquidificador, mas com pouco espaço e compacto. É muito bom para se ter em casa e você consegue ter uma quantidade bacana para quando mais pessoas tomam café com você. Uma questão que começou a me incomodar, quando o tempo foi passando, é que não tem uma regulagem e muitas e muitas vezes o café vai sair mais grosso do que você queria e outras vezes muito mais fino. Isso interfere no sabor final da bebida.

O de sorrir. Foi depois de uma semana muito intensa de trabalhos, poucos cafés bons, longe de casa e dias doente. Estava frustrada tomando sopa e quando melhorei, acabei passando na vizinhança e me dando de presente. Foi um movimento rápido demais, tomei a decisão e corri na loja mais perto. Cheguei em casa e fui feliz para sempre. O engraçado é que eu fiz umas contas e parece que preciso de menos café, quando melhor moído, para fazer o mesmo volume de água. Daí continuei fazendo conta e vi que é um investimento válido, devido ao volume de café que faço aqui em casa. Granulometria correta é música para meus ouvidos.

  1. Xícaras para que te quero

Da fazenda. Aquela bem classicona que fica bem na foto e com bolo de fubá harmonizando. Cuidado com a alça que as vezes fica quente demais.

De vidro, tipo lagoinha. Mais um copinho brasileiríssimo, mas com roupagem cervejeira/cafeeira.

De cerâmica. Lindo, clássico, chique, grande. Sempre uso esse modelo laranja para fazer café só para mim, com o coador pequeno. Cabe pelo menos 300ml.

De visita. Da sala de espera. Da educação. Com a conversa com a vizinha ou quando for ficar se servindo 30mil vezes. Esse ganhei, é da marca de um amigo que trocamos papo com café.

Da família. Parece uma louça portuguesa, mas deve ter sido uma compra na promoção do Pão de Açucar. Combina com docinhos de Belém e colo de vó.

  1. Coadores

Koar. Este é super brasileiro. Tem pouco tempo de casa. Foi o último que comprei, no Marê Café. Sempre tenho um pouco de medo de usar, é de cerâmica, bem lindo e parece delicado. Acho toda vez que vai lascar no meio da louça. Estamos salvos e faz ótimo cafés.

V60 Hario. Um xodó na vida é esse coador já passado de tanto cafés passados. Um dos métodos que mais gosto, mais peço e mais repito em casa. Tenho o grande e o pequeno que levo nas viagens, amarrado à mochila. Não deve durar muito, pois é acrílico.

Melitta comum. Todo mundo tem, tem que ter. Baratinho, simples, o café do mundo passa aqui.

Melitta  alemão. Ganhei de um amigo que é alemão e ao vir ao Brasil em 2018, viu que eu realmente viajo com minhas coisas e fazia o café no hotel, com todas as tralhas necessárias. Era gostar muito de café. Um ano depois, quando voltamos para o mesmo evento, ele me trouxe de presente essa antiguíssima peça, que era da vó dele (essa sim, verdade verdadeira). Chorei pelo menos o volume de um espresso, de tão emocionada que fiquei). Uma peça com 3 pequenos furos no fundo, de cerâmica e para pequeno e únicos cafés.

  1. Jarras

Kalita. Já que eu nunca tenho coragem de comprar o coador do método Kalita (bastante salgado o preço), acabei comprando em uma promoção a jarrinha. Minha jarra da Hario um “belo” dia espatifou no chão, por minha própria culpa.

Decanter. Uma amiga sommelière, a Carolina Oda, me deu de presente essa linda peça, que em geral é usada para servir vinhos antigos. Mas como tenho bebido poucos vinhos, resolvi aproveitar para fazer café e me sentir chiquéééérima logo cedo.

Copo Becker. Filha de pesquisadores, sempre convivi com itens de laboratório. Pensei, e porque não, fazer disso uma jarrinha. Em geral são bem baratas, mas quase nunca o encaixe com os coadores é bom.

  1. Filtro de papel

Melitta. Clássico, barato e cabe nos coadores da marca e com a devida dobra, também em outros métodos.

Hario. Desenhado para a marca, tem uma textura mais agradável que o da Melitta.

  1. Balança

Hario. Esta é uma balança usada em cafeterias e competições. Comprei usada de uma cafeteria que estava trocando de marca e renovando seus equipamentos. O bacana desta é que tem o tempo e o peso, dois itens muito usados durante a receita do barista. Eu sempre peso tudo porque gosto de ser assertiva no café. Minha taxa de diluição hoje em dia é o dobro do que fazia antigamente e por isso é importante que eu consigo mensurar essa etapa.

  1. Cafés em grãos

Já que fizemos tudo isso para tomar café, que ele não seja já moído, pois temos um frescor que valoriza muito a bebida final. As propriedades do café vão se perdendo com o tempo. Quem gosta de apreciar os detalhes, consegue perceber a diferença. Café já moído não é ruim! Além de ser super prático. Estamos aqui tratando de todo um momento geek, por isso cada etapa pesa no resultado final.

Meus cafés eu compro nas cafeterias da cidade, que sempre tem torra fresca, ou porque elas torram, ou porque recebem microlotes. Recebo em casa, 1 x por mês 2 embalagens de 250gr cada, do clube Mundo Café, de Minas Gerais. Sempre fresco. É a regra! Quando viajo compro cafés de outros países para provar. Lembre de guardar bem fechado o café. O ideal são as embalagens herméticas.

  1. Pasta para guardar memórias sensoriais

Guardo todas as embalagens dos cafés que tomo. Uma forma de preservar a história e os sabores desta época. Quando viajo não, nem os cafés por aí. Mas em casa, acho que é divertido contar essa história para mim lá na frente e entender minhas evoluções e carreira de barista de mim mesma.

O café de todo dia, de todas as manhãs é uma locomotiva que nos carrega para enfrentar a vida. A rotina de se ter algo gostoso, o prazer sensorial, os aromas pela casa, os barulhinhos, as regras e toda a sabatina de fazer o café é algo que me deixa feliz. Bons cafés, feitos de maneira simples, como os antigos faziam, como os baristas fazem, como nós apaixonados ou como vocês, na sua própria receita, importante é apreciar o momento desse despertar que a bebida nos traz.

 

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