O Menu, porque assistir

O Menu, porque assistir

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Cartaz filme O Menu. Imagem: DivulgaçãoCartaz filme O Menu. Imagem: Divulgação

O recente filme estrelado por Anya Taylor-Joy, Nicholas Hoult e Ralph Fiennes serve humor, terror e drama em pratos individuais em um serviço bem executado

 

O mais novo filme do diretor Mark Mylod é uma trama bem construída e revela camadas de questionamento a respeito de quem produz e consome a alta gastronomia. Como não quero dar spoilers sobre o filme e acredito que este é um filme que se enquadra em “quanto menos souber sobre, melhor” pensei em alguns motivos que do ponto de vista de quem já teve contato com o mundo por trás do balcão da cozinha fazem a percepção sobre a narrativa abrir algumas deixas para refletir.

O Menu, porque assistir?

Motivo 1: Pela identificação com o sentimento de incompreensão que talvez você nunca admita, mas trabalhando em cozinha já sentiu alguma vez na vida.

Não sou chef de cozinha e nunca cheguei perto de ser, mas já trabalhei em cozinhas e com chefs renomados e para quem também já passou por isso, ou para quem gosta de séries como Chef’s Table e acompanha a alta gastronomia é fácil identificar vários elementos “roubados” do universo foodie no filme O Menu.

Grande parte da narrativa se desenvolve em torno do Conceito. Assim como muitos restaurantes com estrelas o conceito é parte essencial para os desdobramentos do menu, estética e serviço. No filme o mesmo acontece mas com doses dramáticas, teatrais e humorísticas de uma equipe, chef e clientes com perfis que levam o espectador a questionamentos muito comuns (e dos quais eu mesma me peguei pensando várias vezes da época que trabalhava em cozinha) “para quem estou cozinhando e por que?”. A razão e o propósito, no caso do chef Slowik (Ralph Fiennes) da dedicação de uma vida inteira no desenvolvimento de menus e de servir é elevada na arquitetura e desenvolvimento da narrativa.

Ou colocando de forma simples e trazendo para a nossa realidade esse sentimento: sabe quando você passou horas pensando em um prato para servir para as visitas, gastou mais 3 horas preparando cada detalhe e quando a visita chega ela nem sequer repara no que está comendo? É frustrante e por mais que você tente explicar o que quis fazer, a pessoa não entende ou então não se importa por diversos motivos.

O filme é sobre isso de uma forma muito mais bem construída.

Motivo 2: Porque todo mundo adora ver um drama ser estar diretamente envolvido nele.
É um filme tenso. Eu diria que na 1 hora e 48 minutos que se passam, a estranheza e o caminho que segue a narrativa, dando sugestões que algo muito ruim está prestes a acontecer e que você não faz ideia do que pode ser, te deixam tenso do momento que o filme começa até acabar.

As cenas brilhantes e chocantes com conexão direta aos pratos servidos no menu, muito bem pensados e orquestrados pela atuação da equipe de cozinha, digna de um Michelin, são elevadas com a apresentação dos pratos ao espectdor a lá Chefs Tables, sabendo dar o que esperamos ver quando falamos de alta gastronomia.

Alguns elementos com forte semelhança a restaurantes estrelados, como o sueco Fäviken, fazem com que a gente sinta a sutileza na narrativa para criar o ar de reconhecimento entre os foodies que assistem o filme.

Sem falar na atuação de um papel perfeito de chef frustrado e com classe interpretado por um dos vilões mais frustrados e com classe da história de Harry Potter. Sim, o chef de cozinha é interpretado pelo mesmo ator que faz Lord Voldemort na trama juvenil.

Enquanto a equipe de cozinha e o chef são colocados em uma posição de serem parte de um templo ou lugar sagrado, os clientes são personagens de fácil reconhecimento no mundo real e trazem sensação de familiaridade e até mesmo compaixão em alguns momentos diante de todas as situações absurdas que acontecem.

 

Motivo 3 e o mais simples: É um filme bom¹

Agrada quem tem contato com o universo da gastronomia, quem não sabe nada sobre o tema e para quem gosta de uma tensão bem construída. É recente o desenvolvimento de filmes e séries – que não sejam reality shows – que tratem narrativas dentro do universo da gastronomia e O Menu conseguiu fazer isso com os gêneros de terror, drama e comédia.

Como já disse, não sou e nunca chegue perto de ser chef, deixei a cozinha tem alguns anos, mas o sentimento de “para quem estou cozinhando e por que?” me fizeram sair da sessão fisgada. Tirar do expectador de forma dramática, teatral e engraçada o que nenhum cozinheiro ou chef de cozinha jamais vai admitir em voz alta, de que sente uma certa conexão com os motivos que levaram o chef a fazer o que ele faz, deixa uma piada interna para quem pegar a deixa, que é criar o menu mais dilacerante e fiel ao conceito que foi pensado – aí a forma que ele faz isso vamos ter que deixar para você ver o filme.

Sinopse:

O filme conta a história de Margot (Anya Taylor-Joy), uma jovem destemida e curiosa é convidada por Tyler (Nicholas Hoult), um rapaz rico e grande admirador do universo gastronômico, para uma experiência diferenciada em um restaurante renomado e exclusivo que fica em uma ilha. Tyler que recentemente havia terminado um relacionamento, convida Margot as pressas para o jantar e a garota, logo ao chegar no restaurante percebe que tem algo muito errado no local e na presença dela naquele dia. A cozinha e a rotina na ilha é liderada pelo famoso chef Slowik (Ralph Fiennes), que comanda toda a operação dentro do restaurante e na ilha, já que os cozinheiros vivem para isso e fazem todos os processos de plantio, produção e serviço do restaurante. Junto de Margot e Tyler outros convidados como atores, críticos gastronômicos e milionários, estão presentes naquela noite e situações estranhas que vão acontecendo no decorrer da trama com chef de cozinha comandando o desenrolar do serviço com maestria para tudo sair como ele pensou, mesmo que isso tenha um certo sacrifício.

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