Juntas na Mesa, pesquisa sobre a desigualdade de gênero na gastronomia

Juntas na Mesa, pesquisa sobre a desigualdade de gênero na gastronomia

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Desigualdade de gênero na gastronomia: 5 desconfortos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho na gastronomia é uma realidade: ainda que as mulheres dominem as cozinhas domésticas de 96% dos lares do Brasil (PNAD, 2019), apenas 7% delas estão à frente dos restaurantes mais renomados do país (Chefs Pencil, 2022). A pesquisa nacional Juntas na Mesa, realizada por Stella Artois e Ipsos, mostra que são vários os desafios que as mulheres enfrentam na área nas cozinhas de restaurantes, bares, padarias e demais empreendimentos do segmento. Confira cinco barreiras para a equidade de gênero no mercado de trabalho apontadas pela pesquisa, com relatos de importantes chefs de cozinha do país que sentem na pele os efeitos do preconceito e da falta de oportunidades para as mulheres no ramo.
1- 35% das mulheres concordam que têm sua capacidade de cozinhar questionada só por serem mulheres. “Fui muito ignorada por ser mulher e uma situação que me incomodou bastante foi um dia em que um cliente não acreditou que o prato servido em um jantar havia sido criado e executado por mim, deixando claro que não esperava que uma pessoa com a minha história teria capacidade para aquilo. Tudo foi dito de forma aparentemente gentil, mas o preconceito estava ali”, relembra Kátia Barbosa, que começou sua carreira na gastronomia como ajudante de cozinha e atendente no Aconchego Carioca, restaurante no qual ocupa hoje o posto de chef, no Rio de Janeiro. Katita, como é conhecida carinhosamente pelos amigos, também lidera a cozinha do bar Kalango e atua, ainda, como jurada do programa Mestre do Sabor, da TV Globo.

Na foto, a chef carioca Kátia Barbosa. Créditos: Fernanda Tricoli e António Rodrigues

2- Quase 1/3 das mulheres concordam que empreender na gastronomia custa mais caro para elas do que para os homens. Para Ieda de Matos, chef e proprietária da Casa de Ieda, que atua profissionalmente na gastronomia há 10 anos, a barreira financeira sempre foi marcante. Quando o assunto é econômico eu acredito que a dificuldade que tive sempre esteve relacionada à minha condição socioeconômica, em primeiro lugar, já que os momentos em que pude provar renda eu tive acesso ao crédito que precisava. No entanto, o gênero foi o condicionante para que eu não tivesse condição de ter acesso aos postos de trabalho e salário digno e paritário com outros colegas de profissão homens, com o mesmo cargo” revela a chef da Chapada Diamantina, hoje instalada em São Paulo. Dados recentes da Associação Brasileira de Desenvolvimento em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento apontam que só 30% dos empreendedores brasileiros são mulheres. No último trimestre de 2020, 58% dos empréstimos foram concedidos a homens e 42% a mulheres. Eles acessaram valores superiores a R$ 30 mil, enquanto a maioria delas recebeu empréstimos abaixo desse valor.

Na foto, a chef baiana Ieda de Matos. Créditos: Bruno Favery

3- Quase metade das mulheres entrevistadas por Stella Artois e Ipsos busca por algum tipo de profissionalizaçãoElas desejam adquirir mais conhecimento, mas esbarram na falta de tempo e dinheiro. “Na minha opinião, o principal desafio para a equidade de gênero é a gente conseguir cada vez mais empoderar e capacitar essas mulheres. A carreira para um homem é muito mais fácil: ele tem muito mais oportunidade do que a mulher. Um homem não vai dar uma pausa na carreira por conta de uma gravidez, ou mesmo para cuidar da família, de um irmão mais novo…isso faz com que os homens tenham mais tempo para se capacitar e investir na carreira”, conta a chef nortista Amanda Vasconcelos, que traz o tempero e ingredientes da comida acreana para o restaurante Casa Tucupi, em São Paulo.

Na foto, a chef mineira Bruna Martins. Créditos: Fernanda Tricoli e António Rodrigues

4- 35% concordam que muitas mulheres já tiveram suas criações e autoria de pratos roubadas na cozinha. Na visão da chef mineira Bruna Martins, visibilidade e oportunidade são as respostas para acabar com a desigualdade de gênero do setor. “Na estrutura patriarcal, a cozinha foi e é lugar de isolamento social, obrigação e trabalho compulsório feminino. E mesmo num cenário de machismo foi possível sustentar uma cozinha brasileira cheia de ancestralidade, afetos e técnicas. No cenário profissional, os chefs homens são protagonistas da cena, recebem os ‘louros’ das mídias e premiações e, com isso, mais dinheiro. E isso porque a gastronomia que eles vendem têm suas bases construídas a partir do trabalho feminino compulsório, muitas vezes sofrido”. A chef abriu o restaurante Birosca com apenas 22 anos e, hoje, comemora quase uma década de sucesso com o empreendimento em Belo Horizonte.

Na foto, a chef acreana Amanda Vasconcelos. Créditos: Fernanda Tricoli e António Rodrigues

5- 29% das profissionais de gastronomia já sofreram ou presenciaram discriminação de gênero ou pensaram em mudar de profissão por falta de oportunidade. Elas só são maioria nos cargos mais baixos (caixa, atendente, auxiliar de cozinha, recepcionista e auxiliar de limpeza), enquanto os homens lideram em posições de maior visibilidade (proprietários, gerentes, chefs e bartenders). Michele Crispim, chef catarinense que ganhou projeção nacional com a participação no MasterChef, enfrenta o preconceito em dose dupla por ser uma mulher negra. “Eu me sinto estereotipada o tempo inteiro e a minha vida foi quebrar barreiras, entrar, estar e permanecer em lugares que teoricamente ‘não eram para mim’. Sempre tive a sensação de ter que ser melhor, mais forte e mostrar mais a minha capacidade para ser reconhecida. E, mesmo assim, diversas vezes fui desacreditada e desencorajada a seguir. Felizmente pra mim, desistir não é uma opção”, desabafa.

Na foto, a chef catarinense Michele Crispim. Créditos: Fernanda Tricoli e António Rodrigues

 

A pesquisa realizada por Stella Artois e Ipsos destaca três frentes principais nas quais as mulheres encontram mais dificuldade para crescerem na gastronomia: crédito, formação e visibilidade. É por isso que a marca da Ambev vai investir R$ 10 milhões e atuar em cada um desses pilares para apoiar as mulheres em prol de uma gastronomia com mais protagonismo feminino.

Em parceria com o BEES Bank, fintech da Ambev que oferece soluções digitais para facilitar a vida financeira e potencializar a gestão de PMEs, Stella Artois vai trazer uma oferta de crédito para apoiar até 1.000 mulheres empreendedoras no setor da gastronomia no Brasil. Serão disponibilizados empréstimos de até R$ 60 mil reais por empreendedora, sujeitos à análise individual de crédito, com taxas e condições de parcelamento competitivas, atendendo a necessidades como expansão do negócio, fluxo de caixa e até estoque, que são algumas das questões que mais influenciam a busca por crédito.

Stella também se uniu à ONG Gastromotiva, organização que trabalha o alimento como uma ferramenta de transformação social, para criar um programa para atender até 1.000 mulheres a desenvolverem habilidades socioemocionais que as prepararão para a entrada no mercado da gastronomia. Com aulas online permitindo a adesão a partir de qualquer lugar, os cursos vão abranger o aprimoramento de conhecimentos diversos, com disciplinas como Economia Doméstica, Reaproveitamento de Alimentos e Educação Financeira, entre outras competências necessárias para sua atuação nesse mercado de trabalho. As inscrições serão abertas ainda neste ano e as aulas deverão acontecer em 2023.

Para dar mais visibilidade às mulheres na gastronomia, a cerveja da Ambev ainda vai direcionar toda sua estrutura e os seus investimentos, como espaços de publicidade e conteúdos proprietários, para falar sobre as chefs e sobre o tema. Em todas as oportunidades de comunicação e de divulgação, tudo que seria de Stella agora passa a ser da causa. Acompanhe as ações da marca no site aqui.

*Realizada pela Ipsos a pedido de Stella Artois, a pesquisa sobre equidade de gênero na gastronomia aconteceu durante o mês de agosto de 2022, abrangendo entrevistados em quatro blocos regionais do Brasil: Norte e Centro-Oeste (Belém, Brasília e Goiânia), Nordeste (Recife e Salvador), Sudeste (S. Paulo, R. de Janeiro e B. Horizonte) e Sul (Curitiba e Porto Alegre). Para a etapa quantitativa da pesquisa, a margem de erro é de 4,4 p.p.

O levantamento foi dividido em duas etapas, cada uma delas entrevistando 500 pessoas — na primeira fase, foram entrevistados homens e mulheres responsáveis por estabelecimentos de alimentação, enquanto na segunda fase foram entrevistadas apenas mulheres que trabalham na área da gastronomia, em cargos diversos como proprietárias ou sócias, chefs e sous-chefs, cozinheiras e cozinheiras-chefe, auxiliares de cozinha, garçonetes, atendentes e operadoras de caixa. 

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