Cerveja fase 2, o cervochato

Cerveja fase 2, o cervochato

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um copo de cerveja em uma bancada de barFoto: Raw Pixel

Passado o frenesi inicial você já acha que sabe tudo de cerveja. Aquela IPA “lupulada” que tomava dois anos atrás não dá mais pro cheiro. A Berliner levinha do passado nem água mais a boca. A Barleywine maturada de outrora não causa mais aquecimento e delírio.  A Delirium não causa mais também. De repente parece que a carta de cerveja ficou pequena. As fábricas com mais de 5 anos são as tias do mercado? Estilos clássicos são velhos e ultrapassados?

Tudo que te causa um frisson são o uso de lactobacilos & lactoses. De repente você se pega discutindo sobre a probabilidade da escola brasileira de cervejas e duvidando de um dry hopping neozelandês. Tá se perguntando onde foi que chegou?

O job do chato

Ser uma pessoa chata é algo que dá trabalho. No caso do cervejeiro, é fazer da cerveja uma missa o tempo todo. A beervangelização tem hora e lugar. No meio da balada nem todo mundo quer discutir isomerização do lúpulo. Nem no aniversário do colega da faculdade, falar sobre o whirpool quente ou frio. Ou ainda mais comum, no churrasco em família, falar mal de cerveja que tem cereais não maltados. E até o famoso “sua cerveja não é cerveja, só a minha é”.

Exorcizar o beersnobe que te possuiu é um bem necessário. Não há quem aguente uma pessoa contando causos cervejeiros, colocando mais IBU do que pescador, tirando mais milho da vida, que galinha em dieta. Todo mundo tem uma boa história com cerveja ruim. Com cerveja estupidamente gelada. Com cerveja em lata, pasteurizada, em garrafa, em copo de requeijão, de geléia, de plástico, de barro. Flat. Cerveja quente. A que tinha. Não dá para ficar rindo de tudo. Colocando mil defeitos, abrindo as narinas para puxar um off-flavor durante a festa de fim de ano da firma.

A coleção de cristais, taças, tulipas, cálices e mass estão com sua importância intacta. A questão é que não podemos transformar a cerveja em vinho, não dá para querer que a breja seja presunçosa. O sabor pode ser soberbo, o cervejeiro não. A informação não deve ser passada de forma a entediar o bebedor. Quem faz cerveja tem obrigação de saber sobre processos e novas tecnologias e questões químicas. Quem trabalha com construção civil, odontologia e sei lá, até os esportistas estão isentos de culpa de não entender e nem sequer querer saber o que lúpulo faz e se é produzido majoritariamente na Alemanha ou nos Estados Unidos.

Não seja essa pessoa.

Cultura cervejeira deve ser passada para frente. Claro que sim. Beber menos e melhor é também uma boa filosofia para encarar a rotina. Mas podemos fazer isso de diversas formas que não seja sendo uma pessoa considerada beerchata. Mas essa já é a fase 3. Se tornar um pouco chato que seja, deve ser comum. Nem percebemos a cerveja tomando conta das nossas papilas. E de repente a língua essa danada, solta pérolas sem fim.

Com mais maturidade, toma sua Sour fazer comentários e caretas. Bebe sua IPA preferida sem checar se mudaram a lupulagem. Escolhe uma Altbier por ter saudade apenas de uma boa alemã. Sem frescura, procura o que pode comprar naquele dia do mês. Pensa no IPTU e não no IBU. Vale o investimento? Ri das RIS e nem se preocupa em compartilhar. Memória sensorial é mais forte do que você imaginava e lembra com carinho até das witbiers ruins que tomou achando que “ eram lá grandes coisas.” Brinda a vida e os caminhos que percorremos.

Saúde, passou de fase.

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