Mudaria o Natal ou mudei eu?

Mudaria o Natal ou mudei eu?

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Sim, eu sei que começar o texto com um título desses é muita pretensão. Mas para quem já tentou fazer um clone de Cantillon no quintal de casa não chega a ser demais.

E infelizmente para os amantes de literatura brasileira foi mesmo inevitável vilipendiar a melancólica poesia de Machado de Assis depois de divagar sobre cerveja de fim de ano. Tudo começou com a dúvida: o que fazer na panelinha para brindar com a família a chegada de 2023?

As tradicionais Winter Seasonal, Wee Heavy, Dark Strong Ale, Quadrupel ou algo com adição de frutas passas, são as primeiras ideias. Sempre com muito malte, “spicy” e açúcar residual. Mas embora sejam deliciosas, tradicionais e tragam ótimas lembranças gustativas e afetivas, essas cervejas fazem tanto sentido quanto uma abafada fantasia de Papai Noel no dezembro de Ribeirão Preto.

Isso que dá importar tradições do hemisfério norte sem que elas passem por um Manifesto da Poesia Pau-Brasil ou um Movimento Antropofágico. Mas para não me perder no tema da brasilidade, já que o assunto aqui é Natal, sugiro muito os textos do Diego Rzatki aqui mesmo na Farofa.

Ainda na busca por ideias para a receita 2022/23 fui pesquisar o que as cervejarias comerciais estavam fazendo. A surpresa foi perceber que o Natal passou tão em branco nos portfólios quanto a neve que não temos!

A Heineken não tem produzido mais a Christmas Ale da Baden Baden, uma das mais tradicionais do mercado, e nem a Eisenbahn Weihnachts Ale. Mesmo a Bamberg, cervejaria independente de Votorantim (SP), optou este ano por uma Eisbock, sem vincular o estilo com o Natal. Me deixando com saudades de sua Weihnachts.

A catarinense Blumenau foi das poucas que marcou posição natalina com sua Summer Warmer. Ao que parece uma Belgian Golden Strong Ale. Que não provei e deixo para a Anna Regina essa sugestão de presente de Natal. Outra sazonal de Natal, dica da nossa publisher Beatriz, é a Avó Natalina, uma Baltic Porter da paulistana Avós, que conversou com os modernistas de 22 e trouxe mandioca, açaí e cupuaçu para a ceia. Também estou escrevendo minha cartinha: Dear Santa,…

No fim das divagações sobre a cerveja natalina, acabou saindo da panela uma Pale Ale mais maltada. Sem muito compromisso com BJCP mas seca e cítrica o bastante para ajudar a refrescar.

E mais uma vez seguimos com mais perguntas do que respostas por aqui: O que significa esse sumiço das cervejas de Natal? Distanciamento das tradições europeias, preferência pelas IPAs, tropicalização do paladar ou a percepção de falta de interesse dos consumidores? Mudaria o Natal ou mudou o mercado cervejeiro?

 

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