O ano cervejeiro 2020 e o que esperar de 2021

O ano cervejeiro 2020 e o que esperar de 2021

- em Artigos

Como foram as coisas no mercado de cerveja no ano de 2020? Com certeza muito mais difícil do que poderíamos imaginar! E 2021 não deve ser um ano fácil não. Temos muito trabalho a fazer e com certeza temos algum conhecimento adquirido de 2020.

A Fabiana Costa da Fonseca, repórter do Guia da Cerveja me perguntou sobre 2020 e como eu avalio este ano que passou. Para a matéria “8 especialistas avaliam como foi o ano para o mercado cervejeiro e o consumidor“. Como saiu só um resuminho, resolvi colocar aqui na íntegra minha resposta!

1) Como avalia o ano de 2020 para o mercado cervejeiro e o consumidor? Quais os impactos da crise do coronavírus? Como foi possível lidar com todo esse cenário e outras crises, como a envolvendo a Backer e a mais recente, de escassez de matéria-prima?

Essa pergunta é muito complexa, vamos por partes. Eu vejo que o ano de 2020 foi um golpe muito duro ao mercado artesanal, assim como para muitos mercados. Os impactos estão por todos os lados, temos empresas fechando, o desemprego dos profissionais da área, vendas abaixo do projeto, aumento no custo dos ingredientes, por escassez ou por conta da alta do dólar e uma lista imensa de prejuízos. Todo mundo apertou as margens para sobreviver.

Acredito a crise balançou menos para as empresas que tinham seus fundamentos mais bem concretados. Ou seja, uma gestão mais profissional e menos amadora, com olhar crítico sobre desperdícios e com funcionários bem treinados e satisfeitos, que mesmo trabalhando sob pressão em meio ao isolamento social, deram conta das demandas existentes.

Para aquelas empresas que ainda não tinham entrado no mundo digital foi a hora de mergulhar e se comunicar virtualmente, transformando as mídias sociais, sendo uma comunicação ativa. Pedidos podem chegar por muitos canais, seja por whatsapp, telefone ou plataforma online. A criatividade é o elemento que pode transformar uma empresa do ontem para a empresa do amanhã e isso está cada vez mais sendo cobrado de quem quer se destacar. Foi preciso inovar muito para se sobressair em um momento que ninguém quer gastar para não ter uma boa experiência.

Já no começo do ano sabíamos que não seria fácil lidar com a crise na identidade da cerveja artesanal depois do triste episódio com a cervejaria Backer e como as coisas foram mal gerenciadas. A falta de confiança no produto artesanal se revelou maior do que esperávamos e o público que estava chegando para provar novos sabores e toda a cultural artesanal ficou desconfiado. Depois tivemos o caso das mensagens racistas que tomaram grandes proporções e mídia nacional, mostrando mais uma vez que uma cultura como a da cerveja está imersa em antigos padrões, já inaceitáveis para os tempos atuais.

 

2) Quais aprendizados e ações concretas o setor deve levar deste ano para o próximo? O que esperar para os mercados cervejeiros e consumidor para 2021?

Com a aula que foi o ano de 2020 vejo que o mais importante será olhar para todos os “pontos de contato” que o consumidor tem ao pensar em uma marca, compra-la e degusta-la. O consumo político, engajado e com muita diversidade é o que vamos ver nos próximos tempos e espero que todes estejamos com o coração repleto de hospitalidade. A futurologia é uma ciência, mas entender algumas oportunidades e convergências é fundamental para a sobrevivência. Acho que não podemos acertar em tudo, mas ler e ouvir de outros setores e profissionais é sempre enriquecedor.

Todd Alstrom escreveu um texto para o site BeerAdvocate sobre tendências para o mercado norte-americano de cervejas em 2021 e creio que algumas servem também para o mercado brasileiro. As Hard Seltzer estão chegando e com essas novas bebidas, as cervejarias talvez comecem uma transformação para “indústria artesanal de bebidas”. Os equipamentos estão aí, as licenças precisam se adequar e existe um consumidor jovem a agradar.

O consumo em casa deve se manter ainda por algum tempo até todos estarem vacinados, então ainda existe um trabalho a ser feito e que deve se manter, em experiências mais caseiras e calmas. Após a Covid-19 estar controlada e as pessoas imunizadas, a saudade dos encontros, entretenimento e diversão estarão em super alta e com isso os eventos, bares e festas devem assumir um lugar no coração das agendas e gastos. Mas os eventos híbridos, presenciais e virtuais devem se manter, pois muita gente conseguiu participar de encontros inéditos, não só porque estava em casa, mas porque os custos são muito menores.

Para 2021 vejo que teremos que repensar as políticas internas e de consumo, entendendo que a ética e empatia devem estar latentes na cultura das empresas e serviços trazendo as questões sociais que estão latentes nas discussões atuais. Para isso, desconstruir os pensamentos e descolonizar o paladar serão necessários, passando por cima de apegos construídos ao longo dos últimos séculos. É preciso mostrar quão rica nossa cultura é, bem antes de ter sido colonizada e entender nossas ancestralidades. O ponto é que devemos trazer nos próximos anos uma nova forma de olhar essas questões e nos encontrar nesse DNA tão complexo e rico. O Brasil vai ser tendência no paladar em alguns anos.

Produtos com menos álcool ou zero álcool estão agora em uma onda importante e com gente grande trazendo sabor e ações com cara de novidade. Espero ver essa educação cervejeira crescente e latente, ajudando a todas as pessoas que gostam de beber cerveja, mas podem olhar de maneira diferente para seu consumo.

O preço da cerveja deve subir e teremos que lidar com as reflexões disso. Mais uma pressão para encontrar novos consumidores, criar novos ambientes, educar mais pessoas, conscientizar mais paladares. Continuamos uma busca na evolução, empurrada por um momento difícil e um país complicado. Devemos cobrar das nossas Associações e nos unir em prol do mercado, da cultura e das pessoas que estão imersas na cerveja artesanal.

Você também pode gostar

Festival tem line-up de cervejas do estilo IPA

As cervejas do estilo India Pale Ale, as