A produção de lúpulo brasileiro ganhou um reforço de peso no final de 2021.
A Silver Hops, considerada uma agritech, fechou uma parceria com o projeto de fomento à cultura do lúpulo, Fazenda Santa Catarina, liderado pelo centro de inovações da Ambev. O propósito é ampliar a produção de lúpulo genuinamente brasileiro e criar insights em pesquisa e desenvolvimento agronômico.
“Fazenda do futuro” fica no interior de São Paulo
A Silver Hops é uma start-up do agro e está implantada na Fazenda Pratinha, na região de Ribeirão Preto. A iniciativa foi criada para implementar soluções de alta tecnologia no cultivo de lúpulo e colaborar para o desenvolvimento da produção interna do insumo.
O trabalho feito por lá atraiu a atenção do projeto Santa Catarina, que já possui uma fazenda experimental em Lages – SC, e estimula a agricultura familiar e gerando opção de renda para pequenos produtores. A expectativa é que, com a união destas duas frentes, sejam criadas novas possibilidades para o lúpulo nacional em outros estados.
A fazenda tem cerca de 1,5 hectare destinado ao cultivo de 9 variedades de lúpulo em caráter experimental e mais 3,5 hectares reservados para uma expansão futura. Estão sendo feitos testes diversos com adaptações ao solo, clima e condições naturais do local.
Além do desafio de investir em uma espécie forasteira, a propriedade se transformou em um verdadeiro laboratório de inovações com processos automatizados de irrigação, o monitoramento é feito com drones programados e com capacidade de captação de imagens em espectroscopia, fertirrigação de precisão e iluminação especial que são comandadas por aplicativos. Na fazenda também existe uma unidade beneficiadora, que peletiza o lúpulo, deixando-o pronto para comercialização.

Parceria viabiliza lúpulo genuinamente brasileiro
Até 2020, quase 100% do lúpulo utilizado pelas cervejarias brasileiras foram importados, seguindo a oferta de mercado para grandes fábricas e artesanais. Hoje, o projeto Fazenda Santa Catarina vê uma possibilidade de transformar este cenário.
“Não temos a pretensão de trazer autossuficiência em lúpulo para o Brasil por enquanto, mas mostrar que é possível o cultivo com qualidade, tecnologia de ponta e responsabilidade social junto às famílias produtoras”, explica o gestor da iniciativa e consultor de projetos especiais da Ambev, Felipe Sommer.
O propósito também é visto com otimismo por José Virgílio Braghetto Neto, responsável pela Silver Hops e integrante do ecossistema de inovação da Ambev, através do BHL (Bev Hack Lab), que é focado em projetos disruptivos no segmento de bebidas. “Nosso papel será complementar o trabalho que já está sendo feito com a agricultura familiar através do olhar da pesquisa e da inovação. Com estas duas frentes, poderemos gerar transformações importantes na cadeia de produção cervejeira e, por que não, no agronegócio responsável brasileiro”.

O que esperar do lúpulo brasileiro em 2022
Segundo Sommer, o projeto deverá seguir um calendário de ações, incluindo o próximo desafio que é a regulamentação da produção de lúpulo no Brasil como um todo. O foco é desenvolver a primeira fábrica de lúpulo brasileira com apoio da Fazenda Pratinha, produtores e universidades.
“Teremos um caminho parecido com o que a uva percorreu, a soja irrompeu há mais de 30 anos. Sabemos que o agro é o grande motor brasileiro”, diz, afirmando que, apesar de o alcance da produção nacional de lúpulo ainda ser pequeno, existe um potencial enorme.

Brasil tem se empenhado na produção de lúpulo 100% nacional
Experiências com o cultivo de lúpulo já são feitas no Brasil há algum tempo. Em 2020, a cervejaria Black Princess também lançou a Braza Hops, tida como a primeira a levar lúpulo 100% brasileiro, cultivado na região de Terezópolis, no Rio de Janeiro.
Já em agosto de 2021, a Lohn Bier lançou a primeira cerveja totalmente brasileira, a Toda Nossa, uma “brazilian pale ale”, com lúpulo, cevada e leveduras 100% nacionais, especificamente, de Santa Catarina. A cevada foi plantada no oeste e malteada em Blumenau, o lúpulo veio dos produtores da serra e a levedura foi isolada por pesquisadores parceiros (Yeast Hunters) a partir de uma planta nativa do litoral.
Além da Toda Nossa, a Lohn Bier produz regularmente a Green Belly, a primeira cerveja em escala industrial produzida com lúpulos nacionais.
A Colorado também utilizou o lúpulo brasileiro em sua recente Hop Lager da Linha Brasil com S, que também leva tapioca.