A mãe da cerveja, a levedura

A mãe da cerveja, a levedura

- em Artigos

Feliz dia de quem aguenta as crias, evoluí, reproduz e fermenta a vida, onde quer que ela esteja. Hoje não é dia das leveduras, mas quem seria a mãe da cerveja? Me peguei pensando em um texto para o dia das mães. Algo comemorativo? Em geral a gente homenageia nossa mãe, fala sobre os filhos, sobre amor e tal, além de alguém se dispõe a lavar a louça. Mas esse é um ano diferente. E eu quis fugir dos clássicos harmonizáveis, desviei das dicas de qual cerveja pode agradar sua mãe e fiquei meio brava com alguns clichês com relação a forma como algumas narrativas são feitas.

Quis fugir da realidade e fiquei pensando, mas peralá, quem é a “mãe” da cerveja? Quem faria esse papel se fossemos criar uma peça de teatro, um filme ou uma nova série para maratonar durante essa quarentena infinita e cruel lá fora?

Logo no prefácio do livro Levedura, do Chris White e Jamil Zainasheff (recém traduzido e lançados pela editora Krater), tem uma citação muito conhecida de Fritz Maytag “Nós, cervejeiros, não fazemos cerveja, apenas juntamos todos os ingredientes e a cerveja faz-se sozinha”. Parece quase trabalho de mãe.

Queria muito encaixar duas coisas, eu faço muito isso nas minhas crônicas. Me veio essa ideia de que a levedura, talvez seja uma personagem que pode interpretar esse símbolo. Bom, no fundo no fundo (ou no topo, depende da família) essa metáfora é divertida, mas também provocativa. A gente nem sabe ao certo como as leveduras pensam, se elas aceitariam mesmo este papel. Poxa, quem é que vai parir essa cerveja? A criatividade de uma sommelière com um copo na mão é complicada.

Pensa comigo, Ninkasi poderia fazer este papel também. Uma deusa, idolatrada, já tem até um hino cervejeiro! Mas uma só mãe no mundo é pouco demais. Ceres, deusa da agricultura e da fertilidade também caberia aqui, mas ambas são divindades com seus próprios templos e atributos. Estamos aqui pensando que precisamos de muitas cepas para dar certo (se você leu Cerpa tudo bem, mas não é a marca paraense de cerveja). Na época onde se endeusavam estátuas, pedindo ao mágico e mistério mundo da fermentação que trouxessem abundância, lá estavam as leveduras, quietas, trabalhando sem nenhum agradecimento. Elas, as leveduras, não existiam para os humanos. Mas estavam lá muito mais do que as deusas.

Durante muito tempo elas foram tratadas feito reação química. Uma espuma que acontecia por responsabilidade de uma física do universo. Não havia reconhecimento de uma vida ali. Tá, não tinha nenhum coração batendo, sendo ouvido com um estetoscópio (as mães piram nesse momento <3 ). O nome que deram para a espuma? Godisgood. E segundo conta o livro, foi no século XII que tinham essa visão. Ou seja, quantos milênios se passaram com a levedura fazendo o que tinha que ser feito, pois assim que ela se propaga, tem uma missão.

Os primeiros olhos a tocar uma levedura foram os de Anton van Leeuwenhoek, um cientista holandês que construiu seu próprio microscópio, de uma maneira que conseguia ampliar em mais de 1.000 vezes um objeto. Ele descreveu muitas de suas descobertas, mas ainda não chegamos ao ponto de ele entender o que acontecia ali. Estamos no século XVII e tudo parecia ainda químico, espontâneo e estranho.

Foi em 1789 que Antoine Laurent Lavoisier descreveu a natureza química do que acontecia, ele conseguiu observar que existia transformação. Ele era um químico francês, e ficou conhecido por fundar a química moderna. Mas ainda não tinha percebido a levedura da forma como ela realmente é. Achei romântico. Criou-se um clímax, uma temporada onde a gente acredita que tudo será desvendado, mas termina. Tempo para pipoca e ir ao banheiro. Mais um século se passou.

As pessoas estavam quaseeeee reconhecendo as leveduras e lá estavam elas, resilientes. Sem o palco, continuaram fermentando e transformando. Os mostos nesta época já tinham sabores melhores, com maltes mais bem cuidados, tipos e cores, e o lúpulo também tinha conquistado um papel fundamental nessa peça. A água, tão importante, também estava na lista de ingredientes a serem aperfeiçoados e tinha seu protagonismo. As leveduras? Ainda eram apenas uma espuma que levada de sendo levada de um lado ao outro, trabalhava sem carteirinha, sem fundo de garantia, por mais lager que fossem.

Enfim chegamos ao século XIX e a quem dá nome aos bois no mercado cervejeiro. Quem tem estátuas erguidas, é nome de ruas e escolas, museus, métodos e maquinários, está em todas as palestras cervejeiras que contam um pouco da história e da importância da cerveja. Estamos falando de um dos fundadores da microbiologia e quem inventou a pasteurização e a primeira vacina, Louis Pasteur, cientista francês (descobri que meu filho nasceu no mesmo dia que ele!). Suas façanhas são tantas que eu fiquei pensando, que boa mãe ele teve

Você também pode gostar

Barão Geraldo ganhou badalado bar da RuEra

Seguindo a tendência de marcas ciganas cervejeiras abrirem