Eu não tomo cerveja no copo certo

Eu não tomo cerveja no copo certo

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Taça de cerveja e uma garrafa em mesa de restaurante. Foto: Pille Riin Priske via Unsplash

É verdade #prontofalei. Eu não tomo cerveja no copo certo, sempre. Eu sei que existe uma tradição e até mais do que isso, uma sugestão profissional. Como sommelière sempre indico que o ideal, no mundo dos unicórnios e cascatas de café com barquinhas de laranjas cristalizadas, é a gente tomar a cerveja no copo recomendado. Passamos da fase do canudo de bambu, quando Sumérios e Faraós. Os copos já foram de muitos materiais: cerâmica, madeira e até estanho.

Mas acabei fazendo uma lista de motivos do porquê de nem sempre usar os copos da minha coleção:

 

1. Não tomo porque não tenho o número suficiente

Verdade seja dita. Quem tem 6 copos imensos de weizen? Minha caneca alemã de 1 litro é única lá em casa e no máximo uso para comer sucrilhos com leite aos domingos. Talvez meia dúzia de pilsners, a clássica “casquinha de ovo”. Se não estiverem todas quebradas depois de você não ter tido medo de usar. Um nonic é sempre boa opção para ter quando as amizades tomam cerveja em casa, em turma. Fácil de lavar, sem medo de ensaboar e dá até para empilhar.

Exemplo de um copo Nonic, também conhecido como Pint. Foto via Unsplash. Crédito: mnm.all

2. Não tomo porque tenho medo

Já percebeu que alguns copos de cristais, são tão finos que uma gargalhada desafinada que seja, pode quebrar aquele delicado e precioso objeto? Imagina aquele amigo destrambelhado na beira da pia, um precipício ótimo. Ou uma amiga que adora ajudar, mas bebeu mais do que devia? Cada copo tem uma história para mim. O que eu trouxe de uma viagem ou a raridade da coleção daquele evento anual. Posso ariscar?

 

3. Não tomo porque tem que lavar depois de tirar do armário empoeirado

Pensa que lavar aquilo é no mínimo ter que ter um aparato profissional e água quente, já que seu mindinho poderia trincar uma borda. Pequenas hastes, frágeis alças. E o tempo de secar direitinho para não ter nenhuma bolhinha (tipo de refri) colada nas laterais do copo, tirando toda a magia e sensação de riqueza da foto. Quer saber? Não tô assim tão animada para contemplar minunciosamente a riqueza de detalhes do universo sensorial cervejeiro da minha breja rotineira. Minha IPA vai ficar bem sem o spiegelau e minha rinite também.

Esse é um copo de refri, mas é assim que fica quando a cerveja cola na parede. Foto via Unsplash. Crédito: rawpixel

 

4. Não tomo porque tenho preguiça

Aquela cerveja barata não merece meu esforço. O risco de quebrar um snifer? A louça toda misturada na pia junto com a tigela com restos do molho gorduroso de macarrão da tia. Imagina fazer todo o rolê para não sentir aroma nenhum mesmo? Para não restringir de perder carbonatação alguma? Se eu vou tomar o líquido congelado, não preciso de ajuda para manter a temperatura. Nem vou. Sério. Tá na mão o clássico e pronto.

 

5. Não tomo porque não tenho

Não tomo porque tô esperando ir para a Bélgica, lá sim é lugar de copo certo, cerveja certa, azedume correto. E lá, mais do que isso, os copos têm nomes! Cada um nome e sobrenome e família do século onde as coisas eram medievais, época de reis e rainhas. Acho chique, acho phyno e sim, é minha desculpa para retornar ao país cervejeiro onde as receitas que tomamos aqui nasceram lá. É programa de família-cervejeira, entende? Vale a firula toda dos copos. Um lindo cálice para uma deliciosa Trappista. 😉

 

6. Não tomo porque não estou trabalhando

Como sommelier de cerveja estou sempre provando. É taça ISO para lá, é taça ISSO para cá, é taça de vinho, é copo descartável, é copo de evento acrílico, enfim. É tudo menos a calderetinha e o americano (nunca vi ser tão brasileiro), que são sinais de casa, descanso, amigos e férias. Até um copo à la requeijão (mais brazuca impossíble), com uma Pale Ale que não quer ser ninguém na fila do pão.

Foto via Unsplash. Crédito: Blake Guidry

O primordial é estar limpo. Não precisa servir da sala de cirurgia desinfetado. Mas corremos o risco daquela cerveja cara, aquele aroma elegante do lúpulo Savin, das estraladas azedas da sua Lambic, da negritude amaderada da sua RIS não cair perfeitamente bem porque tinha gordura ou detergente nas paredes do copo. Nem 8 e nem 80. Mas quando for subir o sarrafo da apreciação, lembre-se que faz diferença cada detalhe pensado sim, mas você precisa ter a disposição de aceitar e ler todas as regras do jogo. E isso as vezes dá preguiça. Vamos no alcance de todos.

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