Não há jantar sem um clique

Não há jantar sem um clique

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Fotos por Bia Amorim para Farofa Magazine

Sou também usuária faminta da tecnologia que colocou nossa língua mais perto das telas. Um like e um comentário: lambi o celular. Assim estamos com a gastronomia. Influenciando, compartilhando, ostentando, esfomeando pessoas e roncando barrigas pouco antes do almoço.

Nesta terceira Farofa Magazine, que ganhou mais amplitude e saiu das margens de Ribeirão Preto, resolvemos falar sobre as comidas instagramáveis. A ideia surgiu quase logo imprimimos a segunda edição e fomos amadurecendo os conceitos. Eu imaginei que falaríamos dos pratos lindos dos restaurantes do Itaim Bibi, como o Ryo Gastronomia – culinária kaiseki. A capital gastronômica do Brasil, a grande e diversa São Paulo tem muita beleza para pôr à mesa. Parece que lá mesmo em bairros distantes do burburinho como a Barra Funda, você encontra pratos korenos lindíssimos. Ou vai até a famosa Oscar Freire no espanhol caprichado, o Tanit. Dos brasileiros, corre lá no Centro para ver o que os Ruedas fizeram nos últimos anos. Mas não era sobre beleza e minha lista era grande demais.

Consegui entender que poderia ser sobre estética e Carlos Alberto Dória faz referência a isso em seu artigo desta edição. Para compor o time de convidados e discutir o tema, Rafael Tonon mais uma vez por aqui comenta sobre o comer com os olhos, criando um elo no papel que temos nessa nova gastronomia. E por falar em novo, Marco Nogueira do Cozinha Bruta, fala sobre comidas feias. A Fran Micheli, nossa editora aqui, escreveu um texto ímpar para combinar com nossa foto de capa. E eu não podia concordar mais, like!

Falando na capa, a inspiração da foto veio como sugestão do fotógrafo Rafael Almeida. Ele é o responsável também pela capa das duas primeiras edições que temos impressas. A ideia não é discutir de forma rasa o quadro ”A Lição de Anatomia do Dr. Tulp” de Rembrandt, mas mostrar como a imagem pode ser poderosa, em qualquer momento da história que vivemos. Garanto que cada elemento que existe na foto tem uma história. Cheia de “easter eggs”, batalhamos muito para terminar e imprimir esta edição da F.M.

Ainda olhando para coisas mais profundas e fundos escuros, provamos que o sal e o umami são poderosos e os shoyus que temos disponíveis na grande maioria dos restaurantes orientais têm baixa qualidade sensorial (já não bastasse o salmão) e são bem pouco complexos, se comparados a indústrias menores e mais preocupadas com o produto final. Mais um alimento que fermenta e traz notas complexas que podem acentuar os sabores com sua profundidade e equilíbrio. Vale saber quais são.

Por falar em sabores mais complexos, os azeites brasileiros estão com tudo. Estamos aos poucos caindo na real de que não precisamos que as coisas sejam importadas para serem boas. Aliás, se for para gastar um pouco mais com qualidade, porque não investir em algo nacional e bem feito? Esses óleos sofrem demais com tempo e logística, por isso temos hoje o privilégio de ter coisa boa por perto e mais acessível que muita mistura fajuta.

No grupo de pessoas que somos fãs, a Neli Pereira é a bruxa nerd que estampa a entrevista com profissionais que estão na ativa. Ela é a responsável pelas misturas inteligentes do espaço Zebra e ficou conhecida por ir mais afundo em suas pesquisas sobre os líquidos, tradições e composições com cultura e posicionamento político. Para fazer a foto, ninguém menos que Carol Gherardi, fotógrafa que dá um banho em gastronomia e é responsável por imagens lindíssimas de livros, revistas e cardápios de encher os olhos.

Os clubes de assinatura estão mostrando que o brasileiro gosta mesmo de conforto e abraçou a facilidade de receber produtos selecionados, com curadoria de especialistas e tamanho ideal.

A foto do Benny Novak é um daqueles achados. Estava olhando fotos deliciosas de comida do Leo Feltran e encontrei um sorriso, uma cerveja, um pastel e achei que mesmo no rosto do chef com cara de gringo, tinha muito um quê de Brasil. Além das suas comidas serem uma das minhas favoritas fora de casa. Tenho várias fotos no meu Instagram para provar que provei 😉

Da terra dos Ovnis, a Fran visitou lugares inusitados em São Tomé das Letras.

No calor de terminar os assuntos da revista, nos refrescamos com uma conversa sobre empreendedorismo para entender o sucesso da Bacio di Latte, que cresce cada dia mais com uma visão diferente das grandes franquias; até porque não é uma.

E assim trabalhamos durante meses para entregar mais novidades como o dossiê da mandioca, com ilustrações lindíssimas e divertidas do Lucas Lourenço. E porque não termos nossa foto de Instagram por aqui também? E um drinque bastante refrescante e lindo que veio direto de Maceió e uma ilustração para fechar o tema da capa, da Jeska, bem colorida e animada.

Saúde e bons cliques e boa leitura.!

Bia Amorim

Publisher #farofamagazine

instagram @biasommelier

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