Quebrando os padrões

Quebrando os padrões

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Kombucha. Foto: Tim-Oliver Metz via UnsplashKombucha. Foto: Tim-Oliver Metz via Unsplash

Desde o início da história da civilização, a humanidade parece viver em uma busca incansável por padrões. Na área dos alimentos e bebidas isso é bastante evidente. Com o desenvolvimento da técnica de isolamento de microrganismos, as cervejas que eram produzidas através da fermentação espontânea, a partir de uma comunidade de leveduras e bactérias, começaram a ser produzidas a partir de culturas puras. Em cada cultura pura, apenas uma cepa de levedura conhecida é responsável por fazer a incrível transformação bioquímica que transforma, por exemplo, o açúcar que veio do malte em álcool e gás carbônico. Assim, é possível controlar os parâmetros da fermentação, para obtermos sempre produtos com as mesmas características de aroma e sabor.

Por um lado, essa revolução nos permitiu criar produtos consistentes, padronizados e melhorar nossos rendimentos. Por outro, essa mudança na cultura que fermenta o que estava nos copos dos nossos antepassados, levou a mudanças culturais muito profundas em nossos paladares. Hoje, a maioria de nós não ousa sair da zona de conforto, quando se trata em experimentar novos alimentos e bebidas. Somos inclinados a escolher aquilo que nos é trivial e repetir padrões. Em raras ocasiões, por indicação de amigos, tomamos coragem junto com uma sour de fermentação mista. Ou estimulados pelas tendências das mídias, beberícamos uma kombucha na lojinha de produtos naturais. Quando isso acontece, é como se algo se quebrasse dentro de nós e não há mais conserto. Estamos quebrando os padrões impostos ao nosso paladar.

Nessa nova década, acredito que a fermentação espontânea/natural voltará com força. Acredito também que as pessoas estarão mais abertas a experimentar aquilo que desafie o status quo e busquem se reconectar com suas origens naturais. Penso que retornarão às panelas, às mesas compartilhadas e a reprodução de receitas de nossos antepassados. Por que quando refletimos sobre as nossas origens e lembramos que a fermentação é um processo realizado a partir de seres vivos, compreendemos que mesmo as mais modernas tecnologias inventadas pelo macrorganismo humano não podem controlar sozinhas as direções da vida – e que as surpresas podem ser deliciosas.

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