Estou realizando um sonho e queria dividir isso. Porque sonhar é muito bom, mas compartilhar de um sonho é ainda melhor, não é?

Eu nasci na França, em Paris, meu pai é da Borgonha (eu sei, sempre acabo falando do meu pai). Fui criada por ele e ele tem uma coisa incrível: é representante oficial da sua região. Ninguém precisa pagar absolutamente nada para ele, mas mesmo assim meu pai sempre vai falar que sua região é melhor que outras. Calma, se você acha que é prepotência, te digo que não é. 

Meu pai faz a campanha promocional dos seus vizinhos, de pessoas que ele encontrou, das histórias do seu vilarejo e dos vilarejos ao lado. O vilarejo do meu pai está a 9 km da região da Champagne. Porém, por não ser da Champagne, os espumantes se chamam “de Cremant” e são normalmente mais baratos.

Porém, não se atreva a falar  em uma mesa com meu pai, que o Champagne é melhor que os Cremants da Borgonha. Porque ele vai defender os vinhos espumosos que são feitos no território dele e dos vizinhos dele.

Cresci então conhecendo muitos produtores, fazendo e ostentando diferentes produtos. Depois de morar no Brasil, percebi que ostentar produtores da região não era algo normal aqui.

No meu último artigo dividi com vocês uma obsessão ( boa ) que eu tenho com comida e com quem faz, certo? Vou até deixar um trecho para ilustrar e introduzir meu texto:

“Quando eu viajo, busco ir a lugares menores, não me interessa conhecer o mais famoso do pedaço, eles não vão me contar a sua história. Vou ser atendida por um empregado que segue muitas vezes um roteiro e que vai contar o que ele contaria para mim e mais dezenas, centenas, milhares de turistas curiosos.

Mas, indo em pequenos produtores, pequenos restaurantes, pequenas indústrias, mostrar um pouco de interesse e muitas vezes muita cara de pau, você vai conhecer as pessoas que estão por trás daquele produto. Descobri que muitos brasileiros iam para fora, visitavam vinícolas e conheciam muitos produtores sim, mas tudo de fora. 

O produtor local era muitas vezes marginalizado, é como se tivesse um elo mágico que faz com que o vinho ou o queijo europeu ficassem muito melhores que o brasileiro. Com isso não concordo.”

Mas o que tudo isso tem a ver  com meu sonho?

Foto: arquivo pessoal

Eu sou apaixonada pelo Brasil, pelos sabores e terroir brasileiro. Mas o que mais me encanta é a resiliência de muitos produtores. Fui conhecendo muitas regiões (ainda tem muitas para conhecer) e me encantei pela Mantiqueira. É a região mais linda que tem no mundo.

Durante a pandemia nasceu uma ideia: criar um lugar que poderia hospedar as pessoas para conhecer essa região e, para ajudá-las, fazer uma ponte entre os produtores da região e o turista (no caso, você quem está lendo texto).

Assim, será possível ir para lá e conhecer as cervejas da Zalaz, ou até mesmo a escondida Gard. Os vinhos de frutas do sítio Graúna, os vários produtores de azeites, Oliq, Veroli, e comer sem pressa no Empório dos Mellos ou no Entre Vilas. Isso só para dar um gosto do tanto que a Mantiqueira tem de opções para você experimentar.

É possível até mesmo escalar a Pedra do Baú, ou fazer uma caminhada em uma das centenas de trilhas da região, ver uma cachoeira, apreciar a beleza que é a natureza brasileira. Ou mesmo ficar descansando na minha propriedade onde estamos plantando árvores nativas.

Lá, queremos recuperar a nascente e a floresta que não se desenvolveram como deveria devido à exploração que foi feita no terreno. Queremos passear nas trilhas conhecendo diversas abelhas sem ferrão que estamos deixando na floresta.

Descansar nos chalés que foram concebidos para ter o máximo de conforto e ainda serem sustentáveis. Colher uns legumes na horta para preparar o almoço.

Mas a gente pensou nessas cabanas como sendo também um espaço para mostrar o trabalho de muitos artesãos, artistas, através dos quadros, cadeiras, mesas, cerâmicas e dos chás e cafés disponíveis.

Como eu não acredito que somos felizes sozinhos e que eu quero que meu sonho se torne o seu, também estamos construindo um espaço de evento pra ter cursos, eventos, festa… Já pensou administrar um curso sobre chás lá? Ou chamar a Neli Pereira para ensinar coquetelaria regional ou o Marcelo Sulzbacher para falar sobre fungos comestíveis? As possibilidades são enormes. 

O importante é que em breve a gente se encontra lá. Certo? No Terroir do Brasil.

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